Se o ‘centro’ não se unir, será difícil ter um candidato com força suficiente para chegar ao segundo turno das eleições do próximo ano, para enfrentar na reta final da disputa o presidente Jair Bolsonaro ou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa opinião foi manifestada pelo deputado Rodrigo Maia, que acaba de deixar o DEM, em entrevista à BBC News Brasil.
Na entrevista, Maia defendeu que o processo de diálogo político contra Bolsonaro “inclui o presidente Lula” e contou que se colocou à disposição dele para conversar com a equipe que organizará o plano de governo de sua candidatura. Ressaltou, porém, que isso não significa um apoio ao ex-presidente já no primeiro turno.
Seu foco, afirma, é trabalhar para que seu campo, que chama de “centro liberal”, tenha um candidato próprio capaz de chegar ao segundo turno no lugar do atual presidente para enfrentar Lula.
O plano, difícil de ser executado, é que todos os candidatos hoje atrás de Lula e Bolsonaro nas pesquisas se unam em uma única candidatura. Isso inclui a inglória missão de unir adversários como Ciro Gomes (PDT) e o governador de São Paulo, João Dória (PSDB).
“Nenhum dos nossos nomes tem musculatura sozinho para enfrentar o Lula ou o Bolsonaro”, reconhece Maia.
Outra dificuldade que o próprio deputado vê na construção dessa candidatura do “centro liberal” é que parte relevante dos partidos do seu campo político, como PSDB, MDB e DEM, tem se alinhado ao governo Bolsonaro no Congresso, atraídos pelo repasse de recursos da União para suas bases eleitorais.
“Eu acho que o centro liberal hoje está muito amarrado na pauta bolsonarista. (…) Eu vejo hoje no Parlamento nosso campo muito acanhado, muito refém dessa máquina federal”, ressalta.
Se um candidato do “centro liberal” não passar do primeiro turno, Maia diz que votará em Lula contra Bolsonaro – em 2018, fez exatamente o inverso, escolheu no segundo turno o atual presidente para derrotar o PT.
Sua passagem à oposição a Bolsonaro acabou alimentando seu desgaste no DEM, partido que integrava desde os anos 90 e do qual acaba de ser expulso. A saída se deu por divergências públicas com o presidente do partido, ACM Neto, relacionadas ao alinhamento da legenda ao governo federal.
Agora, Maia tende a ingressar no PSD, seguindo o mesmo trajeto do prefeito do Rio, Eduardo Paes. Apesar das especulações de que ambos possam apoiar a candidatura de Marcelo Freixo (PSB) ao governo do Rio de Janeiro, Maia diz que o mais provável é ele e Paes trabalharem para que o PSD lance seu próprio candidato ao Palácio da Guanabara.