Mais um motivo de preocupação para as autoridades sanitárias brasileiras: uma nova cepa do novo coronavírus, que circula pela Índia, já está no Brasil. A variante contagiou tripulantes do navio Shandong da Zhi, que transporta minério de ferro da Vale para os mais diferentes cantos do planeta.
O navio está ancorado no litoral do Maranhão. Os infectados pela variante B.1.617.2 foram seis tripulantes. A preocupação começou quando um homem indiano, de 54 anos, foi internado num hospital de São Luís com sintomas de covid-19. Ele começou a sentir febre no dia 4 de maio e foi encaminhado de helicóptero para um hospital da rede privada.
O secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula, que também é presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, mandou redobrar os cuidados. Essa nova variante foi considerada “de preocupação” pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e possui três sub-linhagens: B.1.617.1, B.1.617.2 e B.1.617.3. A segunda delas, que foi detectada no Maranhão, é a que tem se mostrado mais transmissível para as autoridades de saúde.
“No Reino Unido, essa mesma sub-linhagem passou a representar 11% dos casos em duas semanas de circulação durante o mês de abril. É um crescimento assustador”, relata Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Ter uma nova variante entrando na equação num momento em que Governos adotam flexibilizações imprudentes é criar um cenário de transmissão acelerada que vai ser muito problemático no futuro”, completa.
O secretário de Saúde do Maranhão confirmou que, fora os profissionais de saúde que o atenderam, nenhum tripulante do navio sul-africano teve contato com pessoas em terra, o que Fontes-Dutra considera “uma medida sanitária muito positiva”. A biomédica, no entanto, reforça que não se tem a certeza de que os casos maranhenses são realmente os primeiros da cepa indiana no Brasil.
“O Rio Grande do Sul faz fronteira com a Argentina, onde a variante já foi detectada, e tem regiões com um aumento expressivo de casos. Ela já pode ter entrado no Brasil por outros lugares”, pontua ela. “Existem medidas de vigilância genômica, mas o rastreio é subnotificado, com uma série de limitações que não nos permitem fazer a detecção no momento em que a transmissão acontece. A minha preocupação é saber que muitas vezes o primeiro caso é só simbólico, porque quando identificamos ele, já sabemos que deve ter infectado outros”, explica.
Fontes-Dutra afirma que as variantes indianas apresentam a possibilidade de reinfecção em relação às outras cepas do vírus, mas os testes feitos até agora indicam que elas são abrangidas pelas vacinas aplicadas no Brasil. “O que preocupa é o incremento na transmissão, uma vez que a vacinação não deve acelerar nos próximos dois meses. Então, independente do escape imunológico, muitas pessoas ainda estarão suscetíveis se não houver adesão a medidas de isolamento e combate à covid-19″, ressalta a cientista.
Na Índia, a cepa foi responsável por uma situação de colapso sanitário desde o mês de abril, levando o país asiático a uma situação de falta de oxigênio e crematórios lotados. Nesta quarta, o país registrou 4.529 óbitos nas últimas 24 horas, um recorde mundial, e chegou a 25,5 milhões de casos, atrás apenas dos Estados Unidos. Segundo a Universidade de Oxford, a Índia foi responsável por 33% das mortes por covid-19 no mundo durante a última semana.