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Certeza que tempo leva à velhice um dia chega

Josias Santos. Certamente, você nunca ouviu falar desse sujeito. No entanto, basta mencionar o nome artístico do gajo para que a memória o transporte ao mais brilhante período das telenovelas: Augusto Cavalcante. Um metro e oitenta, olhos azuis e o doce sorriso canalha das telinhas. Qual mulher nunca o desejou? Que homem não quis estar na pele do maior galã das tramas acompanhadas por milhões de telespectadores?

Ator… Quer dizer, galã! Afinal, como todo galã que se preza, nunca fora ator, mas o mais notório canastrão. Bastava! Tanto é que, desde que começara no ofício, a única coisa que possuía era a beleza, que, após décadas, foi-se esvaindo. Seja como for, o público o amava, por mais clichê fossem suas falas.

Augusto, ao longo de gerações, contracenou com várias atrizes. Atrizes! Todas seguraram, literalmente, a cena. Algumas se apaixonaram pelo parceiro de trabalho, mas a maioria logo percebeu que daquele mato não saía coelho nem mesmo lebre faceira. Sequer derradeira esperança, que fosse, por um preá fujão.

Há quase dois anos, lá estava o herói nacional contracenando com uma garota de não mais de 20 anos. Na verdade, a ninfeta era o mais novo par do astro. O problema foi que ele percebeu como o tempo havia corrido. É que a tal garota, cujo nome era Júlia, carregava sobrenome há muito conhecido: Rufino.

Augusto havia contracenado com a bisavó de Júlia, a finada Elisa Rufino, bem como a avó, Maria Lúcia Rufino. Poderia tê-lo feito com a mãe da atriz, a conceituada Patrícia Rufino, mas esta preferiu atuar apenas no teatro. O canastrão, ciente das próprias limitações, nunca se atreveu a encarar uma plateia ao vivo, ainda mais porque sabia que o público do teatro era exigente.

Diante da jovem Júlia, Augusto percebeu, pela primeira vez, que seu rosto derretia na telona. Sentiu-se ridículo em viver um romance improvável em mais uma história criada para agradar ao seu público, que, apesar do período inimaginável de sucesso, mantinha-se fiel. Todavia, aquilo deixou de fazer sentido para o velho canastrão e, então, ele pediu algo inusitado para o roteirista.

— Jorge, por favor, preciso de um grande favor.

— Pois diga, minha estrela maior!

— Quero me mate.

— O quê?

— Isso mesmo!

— Como assim, Augusto? Você é o maior astro que temos. Sem você, a história não faz sentido.

— Invente algo. Você é bom nisso.

Após vários argumentos usados pelo autor da novela, todos rebatidos pelo galã, a trama foi alterada. Ficou absurda, é verdade. No entanto, parece que o público aceitou de bom grado.

Luís Fabiano, papel vivido por Augusto, por puro descuido, ingeriu uma poção mágica, que o transformou em um belo rapagão de lá seus 25 anos. Dessa forma, saía de cena definitivamente o lendário Augusto Cavalcante, enquanto ganhava as telas Lauro Gomide, o novo queridinho do país.

Não se sabe ao certo o que o antigo astro anda fazendo. Todavia, segundo renomado colunista de fofocas, não demora, será publicado um livro de memórias do eterno ator Augusto Cavalcante. Quer dizer, galã.

………….

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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