Julia Affonso e Fausto Macedo
O ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró – preso desde janeiro na Operação Lava Jato – afirmou em delação premiada na Procuradoria-Geral da República que pagou propina de US$ 6 milhões aos senadores Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA), ambos do PMDB, em 2006. Na ocasião, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) recebeu cerca de US$ 800 mil. Cerveró disse que pagou propina em troca de apoio político para permanecer no cargo.
Segundo o ex-diretor, quem fez a operação do pagamento dos valores foram os lobistas Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, e Jorge Luz, apontados como operadores de propinas do PMDB.
“Que o declarante (Cerveró) havia se comprometido com o PMDB, nas pessoas de Jader Barbalho e Renan Calheiros, a efetuar o repasse de US$ 6 milhões para a campanha de 2006”, registrou a Procuradoria-Geral da República.
Cerveró fechou acordo de delação dia 18 de novembro. Ele é o pivô da prisão de Delcídio, ocorrida no dia 25 de novembro. Com medo das revelações do ex-diretor da Petrobras, o petista, ex-líder do governo no Senado, teria tramado barrar a Lava Jato. Seu plano consistia em financiar com o banqueiro André Esteves – que também foi preso – a fuga de Cerveró para a Espanha.
O ex-diretor da Petrobras foi condenado pelo juiz federal Sérgio Moro por corrupção e lavagem de dinheiro. Acuado, com remotas chances de obter habeas corpus, Cerveró decidiu fazer delação.
Fontes – Ele afirmou que os US$ 6 milhões destinados a Renan e Jader, além da parte de Delcídio, foram retirados de duas fontes. A primeira delas do saldo da propina referente à contratação da sonda Petrobras 10000.
Segundo o delator, a parcela foi “resultado da diferença entre o valor ilícito total cobrado e o montante efetivamente reservado a funcionários da Petrobras e a Fernando Baiano”. A outra fonte veio do adiantamento de propina referente à contratação da sonda Vitória 10000, feito pelo lobista Julio Camargo, no valor de US$ 2 milhões.
“A parte mais substancial dessas propinas foi repassada ao PMDB nas pessoas de Jader Barbalho e Renan Calheiros”, declarou Cerveró.
O ex-diretor disse que Delcídio recebeu sua parte do adiantamento de uma propina repassada por Julio Camargo no valor de US$ 2 milhões. “Foi repassada uma quantia menor, de aproximadamente US$ 800 mil para Delcídio Amaral, em pagamento dos US$ 2,5 milhões prometidos em 2005 e 2006 no início da campanha a governador do Estado de Mato Grosso do Sul.” Os US$ 6 milhões para Jader e Renan, segundo Cerveró, foram obtidos logo depois de concluída a negociação referente à sonda Petrobras 10000.
Segundo ele, a multinacional Samsung “demonstrou a possibilidade de construção de uma nova sonda e, por intermédio do lobista Julio Camargo, verificou com a Petrobras se haveria interesse na contratação dessa nova sonda. “A Petrobras tinha interesse nisso, e o declarante sinalizou esse interesse a Julio Camargo, mas condicionou a contratação ao pagamento de uma propina de US$ 20 milhões; que, então, Julio Camargo aceitou essa condição, tendo sido feita a contratação da segunda sonda, a Vitória 10000 pela Petrobras.”