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Céu de Brasília, cantado hoje em todo o País, já era formoso nos idos de 1960

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José Escarlate

Natal se aproximando. A minha estada em Brasília até que não era das piores. O que massacrava mesmo era a danada da saudade de casa. Da minha mãe, da minha família, da minha noiva, dos meus amigos, do meu Rio, da minha praia. Saudades da vida.

Trabalhava muito, comendo poeira o dia inteiro, mas satisfeito. À noite, após a chuveirada de água fria – o diabo do chuveiro elétrico estava sempre queimado -, a janta, na cantina da Dona Maria. Aquela comidinha mineira, caseira, que muitas vezes atraía convidados de fora.

Depois do tradicional papo com causos e piadas, os braços do morfeu chamavam, já que eu acordava em torno das seis da matina.

Muitas noites, deitado na cama, eu me abraçava com o travesseiro e chorava. Eram lágrimas de saudades pelo que estaria perdendo, na flor da minha mocidade – 23 anos.

Mas Brasília me atraia. Tinha algo de diferente de tudo o que eu conhecia. Em Brasília eu tinha emprego, casa, comida e roupa lavada, além de prêmio de produção de uma viagem ao Rio por uma semana.

Eu trabalhava na Agência Nacional, e nos jornais A Gazeta, de S. Paulo, e o Dia e A Notícia, do Rio. Sem diárias, mas com passagem aérea. Querendo casar, tinha que enfrentar o temporal do cerrado, trovoadas assustadoras.

Sem chuvas, as noites eram belas. O céu, bem pertinho, todo constelado. Poderia tocá-lo com as mãos. Aquilo me dava forças e então dormia, feliz.

PV

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