Carolina Paiva, Edição
Depois de 24 anos morando em São Paulo, a arquiteta gaúcha Inês Schertel resolveu desacelerar e transformar a casa de campo da família em lar. Na propriedade localizada em São Francisco de Paula (RS), o marido de Inês, Neco Schertel, mantém um rebanho de ovelhas em campo nativo melhorado.
“Compramos o terreno em 1996 e há cerca de 12 anos o Neco começou a criar ovelhas. Sempre tive vontade de aproveitar a lã dos quase 300 animais do rebanho, mas passei muitos anos sem saber o que fazer com essa matéria-prima tão rica”, lembra.
A resposta surgiu sem querer, quando um tapete artesanal de feltro rústico chamou a atenção da arquiteta durante uma visita à galeria italiana Spazio Rossana Orlandi, em Milão.
“É uma tradição com mais de seis mil anos, oriunda dos povos nômades da Ásia Central. É tão antiga que surgiu antes mesmo da fiação e da tecelagem”, explica Inês, que fez cursos na Itália, na Holanda e no Quirguistão para aprender a técnica milenar de feltragem por fricção.
A cada ano, cerca de 400 kg de lã são beneficiados na fazenda do casal: após a retirada do pelo (tosquia), ele é lavado e penteado. O próximo passo consiste em friccionar várias camadas de lã com uma mistura de água e sabão de oliva.
“É preciso ter força e paciência para esperar o momento mágico em que as fibras se encolhem, se agarram e se transformam em feltro”, conta. Em seu ateliê, um refúgio cercado por uma imensidão de campos e araucárias, Inês cria – um a um – cestos, luminárias, bancos e objetos de decoração com formas orgânicas que traduzem o conceito do slow design, movimento que valoriza o trabalho manual, a utilização de matéria-prima local e a produção em pequena escala.