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Chegada das rugas deixa Margarida inconsolável

Margarida franziu a testa e cutucou o marido, para que ele prestasse atenção nas míseras rugas. Mal havia chegado aos 30, a mulher andava às turras com a velhice, aos seus olhos, cada dia mais presente.

– Arnaldo, estou velha!

– Que nada! Você é tão jovem, meu amor!

– Você diz isso só pra me agradar.

Não satisfeita, tratou logo de marcar uma sessão de massagem facial. Infeliz com o resultado, seguiu o conselho das amigas e aplicou botox na testa, depois nos cantos da boca. Pensou em até aumentar os lábios, mas se lembrou da vizinha, que havia feito tal procedimento e andava como se estivesse distribuindo beijinhos para todo mundo. Que coisa horrível!

Cremes milagrosos se tornaram corriqueiros no dia a dia da Margarida, até que o tempo passou tão ligeiro, que ela mal percebeu a aproximação dos 70. Pois é, chegou! Septuagenária! No entanto, caso olhasse para aquela pele tão bem cuidada, ninguém lhe daria mais que 65. Talvez até 63.

Diante do enorme espelho do quarto, Margarida sentiu saudade dos seus 30, quando ainda era tão jovem. Na cama ao lado, Arnaldo roncava o sono dos aposentados. Observando o marido através do espelho, Margarida o chamou. Nenhuma resposta, até que ela, quase gritando, insistiu. Arnaldo, com os olhos entreabertos, olhou para a esposa. Ele a achava linda mesmo após mais de 40 anos de casados.

– Arnaldo, estou velha!

– É.

– O quê?

– O que o quê?

– Você me chamou de velha!

– Eu?

– Sim! Foi justamente o que você acabou de dizer!

– Apenas concordei.

– Arnaldo, vou te falar apenas uma vez, mas preste bem a atenção!

– Hum.

– Velha é a tua mãe!!!

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