Rei e rainha
Chegaste, Jennifer? Esse cara sou eu, diz Roberto
Publicado
emPedro Antunes
Chegaste, a nova música de Roberto Carlos, é descaradamente pop. A faixa, um dueto com a norte-americana Jennifer Lopez, é irritantemente adocicada. A balada, lançada na sexta-feira, 16, provavelmente não vai deixar o ouvinte em paz após a primeira audição. Roberto, o Rei, acertou de novo.
Desde Esse Cara Sou Eu, outro hit chiclete, Roberto se permitiu ficar em silêncio, sem novidades vindas de estúdio. Com 57 anos de carreira e sem qualquer necessidade de lançar material inédito, o capixaba se dá ao luxo de ser cirúrgico – sim, o uso do clichê aqui é permitido pelo excesso de lugares-comuns usado pelo Rei ao longo dos quase quatro minutos de Chegaste.
A música é uma versão em português, com tradução criada pelo próprio Roberto, de Llegaste, criada pela cantora porto-riquenha Kany García e produzida por Julio Reyes Copello, colombiano com seis gramofones do Grammy na estante (quatro deles são do Grammy Latino) e conhecedor, como poucos, do pop romântico palatável para o mercado latino. A lista de artistas com quem ele trabalhou inclui Ricky Martin, Alejandro Sanz, JLo, Nelly Furtado, nomes que têm entrada no mercado brasileiro e são fortes nos países vizinhos. Como disse o clichê, escolha cirúrgica.
O fato de Jennifer Lopez cantar na música é meramente mercadológico – ela lançará uma versão em espanhol no seu próximo disco a ser lançado no mercado da América Latina. No Brasil, se o dueto fosse com Paula Fernandes ou com a dupla Maiara e Maraisa, o resultado seria o mesmo. E ninguém seria obrigado a ouvir JLo sofrer ao tentar acertar a pronúncia em português.
Os versos, de tão adocicados, deveriam ser proibidos para quem faz dieta, mas são fáceis – e fofos. “Quem diria que você viria sem dizer que vinha? Porque nunca é tarde / Para apaixonar-se”, cantam ambos, numa crescente para refrão, quando rimam “te quero” com “doce com caramelo e “amor sincero.”
Chegaste, montada para dar certo, alcançará seu objetivo com êxito. Uma audição e já é possível imaginá-la nas rádios e no repertório quase imutável dos shows do Rei. O ponto é para ele – o clichê, também.