A apneia do sono é provocada por diversos fatores e caracteriza-se pelo estreitamento da passagem de ar pela garganta, o que dificulta e até interrompe a respiração enquanto a pessoa dorme. Os tratamentos também são variados, e algumas cirurgias podem melhorar ou curar o problema, desde que tenham indicação específica.
Segundo Otávio Ferraz, cirurgião dentista especializado em odontologia do sono, mais da metade das pessoas que sofrem de apneia tem alguma deformidade craniofacial. “Ou seja, há malformações maxilomandibulares que levam esses ossos a estarem posteriorizados ou estreitos, fazendo com que a língua também fique posteriorizada. Isso diminui a dimensão da faringe, causando a apneia do sono”, explica o médico.
Para esses casos, pode ser indicada uma cirurgia esquelética, também chamada ortognática, que reposiciona os ossos a fim de expandir a passagem pela faringe. Ferraz alerta que esse procedimento é realizado totalmente por dentro da boca e causa grande impacto na estética facial.
O jornalista Leonardo Costas, de 37 anos, passou pelo procedimento há quase dois anos, mas sofria de apneia do sono desde a adolescência. O caso dele, mais tarde, foi classificado como gravíssimo por ter cerca de 70 apneias em uma hora de sono e mais de 350 por noite. “Já tinha feito algumas polissonografias, mas não tinha dado valores tão altos, então não dei muita importância na época”, diz.
Ele só procurou ajuda médica quando dormiu ao volante enquanto dirigia pela Rodovia Anchieta a caminho da cidade de Santos. Costas afirma que, após a cirurgia, a qualidade de vida dele melhorou bastante. “Não ronco mais, acabou a exaustão e a sonolência durante o dia e não preciso mais usar remédio para descongestionar o nariz.”
Ferraz foi quem realizou a cirurgia do jornalista e explica que ele tinha uma deficiência de crescimento mandibular. “Grande parte desses pacientes que apresentam malformações esqueléticas também tem os dentes mal posicionados. Muitos necessitam de tratamentos ortodônticos prévios à cirurgia”, afirma o especialista.
Além do CPAP, aparelho que captura oxigênio do ambiente e o ‘empurra’ para dentro da boca a fim de abrir a faringe, Costas teve de usar aparelho fixo e extrair dois dentes. O objetivo era ganhar ainda mais espaço para a passagem do ar. A cirurgia do jornalista durou mais de dez horas, ele ficou 59 dias sem mastigar e atualmente está em fase final de fonoaudiologia.
Embora a cirurgia esquelética tenha caráter curativo, o paciente pode voltar a ter episódios de apneia do sono se não cuidar da saúde como um todo. O ganho excessivo de peso, por exemplo, que é fator de risco para a doença, deve ser evitado.
Outro procedimento que pode ser indicado é a uvulopalatofaringoplastia. Esse nome complicado abrange todas as áreas que são afetadas: a úvula (também conhecida como ‘campainha’), o palato mole e a faringe. É indicada em casos de ronco primário e apneia leve.
Essa intervenção cirúrgica geralmente é realizada por otorrinolaringologistas e consiste, basicamente, na remoção das amígdalas e de um fragmento do palato mole, além de alguns pontos que abrem o espaço da faringe para prevenir a junção das estruturas que geram o ronco ou a obstrução. A úvula pode ser removida parcial ou totalmente.
Dependendo do caso, ainda é possível retirar apenas as amígdalas. Essa opção pode ser viável quando elas sofrem hipertrofia (aumento). O médico responsável pelo procedimento, geralmente o otorrino, pode avaliar ainda se há desvio de septo ou hipertrofia das conchas nasais que colaboram para a apneia.
Quem não quer passar pelo centro cirúrgico tem ainda a opção de usar aparelhos que ajudam o ar a entrar mais facilmente pela garganta. O CPAP (sigla em inglês para Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas) é um tratamento mais conservador e consiste em um aparelho que captura o oxigênio do ambiente, umedece por meio de uma mangueira chamada traqueia e o ‘empurra’, por pressão positiva, para dentro da boca, abrindo a faringe.
Ferraz explica que esse equipamento é indicado para todos os níveis de apneia, leve (de 6 a 15 obstruções a cada hora de sono), moderado (16 a 30 obstruções por hora de sono) ou grave (mais de 30 obstruções por hora).
Há ainda o aparelho intraoral de avanço mandibular (AIO-AM) que é indicado para apneias leves e moderadas. O objetivo dele é tracionar a mandíbula para frente durante o sono a fim de aumentar a dimensão da faringe e evitar a obstrução da via respiratória.