Do alto de sua competência e produtividade futebolística, bem disse o amigo Beline sobre a atual Seleção Brasileira. O Beline da narrativa não é Bellini, o capitão de 1958, mas o capitão-tenente e amigo de adolescência e adultecência. Segundo ele, no quesito futebol, nos resta viver do passado. Ele tem razão. Afinal, lá se vão 22 anos da última conquista mundial. Tudo bem que já temos cinco títulos, mas, incluindo o Maracanazo, em 1950, tivemos caixa para seis, sete e até oito campeonatos. Hoje, nem as chuteiras pretas de travas de prego existem mais. Não teria nada contra as atuais sapatilhas cor de rosa, amarela, verde lusco fusco e azul calcinha. Não teria se a rapaziada do chinelinho dourado jogasse bola. Não jogam. Por isso, acho os calçados exagerados.
Qualquer peladeiro dos tempos do Bellini e do meu amigo Beline jogam muito mais. Por conta de nossas disputadas peladas nos terrenos baldios e no velho São Luís, na Zona Sul de Realengo, nós podemos ser considerados exemplos. O fato é que, no futebol, o Brasil deixou de ser referência. Pior é termos virado saco de pancada de uma Alemanha que, no passado, lá ou cá, entrava em campo sabendo que ia perder. A preocupação dos gringos era saber de quanto. Nos devolveram as numerosas derrotas com um sonoro e inesquecível 7 a 1 e em pleno Mineirão. Falo da Alemanha por razões óbvias, mas todos, sem exceção, se cagavam em campo quando enfrentavam a seleção canarinho. Não à toa, Pelé foi e será sempre o rei do futebol. Quanto aos cai-cai, no máximo os bobos da corte. Nem para eunucos servem.
Antecipando as desculpas, pois não tenho como citar todos, quem não se lembra de Domingos e de Ademir da Guia, de Carlos Alberto Torres, Nilton Santos, Garrincha, Pelé, Didi, Amarildo, Pepe, Rivelino, Tostão, Gérson, Jairzinho, Zico, Roberto Dinamite, Paulo César Lima, Junior Capacete, Leandro, Sócrates, Falcão, Toninho Cerezo, Reinaldo, Ronaldo, Romário, Ronaldinho, Rivaldo, Roberto Carlos, Cafu e mais um milhão de craques formados nas peladas cariocas, paulistas, mineiras, gaúchas e do restante do Brasil? Como diz um outro querido amigo, o Valdemiro, Garrincha era feio e desengonçado, Pelé desarrumado, Sócrates magrão, Rivelino bigodudo, Leandro um peixe frito e Paulo César apelidado de caju.
No entanto, eram craques de fazer chorar reis e rainhas, príncipes, princesas e até ditadores. A menos que fosse por um chute ou uma bolada nos testículos, não havia tempo para que eles se jogassem no chão. Firulas melindrosas do tipo Frappé (um dos nove passos do ballet clássico) para tapear o juiz e enganar os torcedores também não eram permitidas. Muitos desses cracaços fizeram bastante sucesso no exterior. Alguns ficaram por lá. A diferença é que nenhum dos citados tinha tatuagens, brincos, cabelos cor de fogo, fones de ouvido, bichinhos de pelúcia, carrões importados, helicópteros, iates, muito menos mansões espalhadas pelo mundo. Maquiagem e depilação das partes pudendas e pouco usadas, nem pensar. Jogavam para 130, 150, 200 mil pessoas. Hoje, 50 mil é um recorde a ser comemorado.
As feras costumavam chamar a bola de madame e por ela sempre foram tratados como bailarinos alfa com a pelota nos pés. Atualmente, nossos “boys” são lindos, cheirosos, depilados de alto a baixo e milionários bem antes dos 20 anos. Assustador é que a maioria não sabe jogar futebol. Pior é não aceitar críticas. São perebas e ponto. Além de pipoqueiros e pernas de pau, se acham explorados pelos clubes porque jogam quarta ou quinta-feira e sábado ou domingo. Ganham o que não merecem para isso. Só para registro dos bonitinhos, não era diferente nos anos 50, 60, 70, 80 etc. A turma jogava, suava a camisa, respeitava os torcedores e ainda tinha tempo para formar famílias consolidadas. Venerados e idolatrados, mas sem amor ao clube que o emprega, os meninos de hoje vivem cansadinhos de tanto beijar camisas.
Temos de reconhecer o quanto é cansativo passar quatro horas no cabeleireiro, mais quatro no tatuador, duas no depilador, outras duas na banheira de ofurô e meia hora para escolher a chuteira que combina com o corte e a cor do cabelo. Eita povo que não se toca. Parem de exigir tanto de nossos bonitinhos e deixem que eles vivam no mundo da fantasia. Enquanto isso, a gente amarga uma série de desgostos de tirar o fôlego dos amantes do esporte bretão. Nada que nos leve ao suicídio, mas, nas últimas cinco edições da Copa América, o Brasil foi eliminado duas vezes nas quartas de final e uma na fase de grupos. Nos mundiais, não conseguiu passar das quartas de final. Ou seja, todo dia a sensação é de um novo 7 a 1. Antes que isso ocorra, passei a torcer pelos petequeiros.
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras