Eis que estou aqui em casa, quando a minha esposa, a famosa Dona Irene, solta aquela gargalhada. Imediatamente, lanço um olhar e um sorriso bobo diante de tamanha beleza.
– O que foi, amorzinho?
– Edu, lembra daquele dia em que estávamos naquela praça lá em Brasília com o Chengulo, e uma mulher apareceu e perguntou se você poderia responder a uma pesquisa?
– Lembro. E o que tem isso?
– É que você disse que tínhamos um filho de sete anos que se chamava Chengulo.
– E daí?
– Daí que ela fez uma cara de surpresa. Até repetiu o nome: “Chengulo?”
Pois é, isso aconteceu numa manhã ensolarada na Asa Norte, quando estávamos passeando com o Chengulo. A moça da pesquisa não percebeu que estava diante do nosso filho, pois imaginou que ele estaria na escola.
É engraçado como a vida é tão curta, especialmente a dos cães. No entanto, parece que eles vivem de modo mais intenso, como se soubessem que não há tempo a se perder. Mas não na ânsia de ganhar cada vez mais e mais dinheiro, ser reconhecido por isso ou aquilo. E o Chengulo, com aquela cara achatada, faz muita falta. O que me conforta é que ele soube como ninguém levar uma vida plena de cachorro.
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*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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