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Espinho na garganta

China consolida fim do castigo dos poderosos ao Brasil

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto Fábio Rodrigues Pozzebom

Após quatro anos em que o verbo golpear foi conjugado em todos os tempos e formas, o Brasil finalmente voltou à terra firme. E voltou para ficar. Como bem disse o escritor moçambicano Mia Couto, quando já não havia outra tinta no mundo, o poeta usou do seu próprio sangue…Num passado recentíssimo, por pouco o sangue não jorrou na Praça dos Três Poderes. Foi um período em que o bêbado era conduzido por um cego. Mais uma vez recorro a Mia para sintetizar nossa atualidade: “Na desordem do sangue, a aventura de sermos nós restitui-nos ao ser que fazemos de conta que somos”. Pelo menos somos livres, não somos enganados com a frieza dos maldosos e podemos afirmar que os solavancos na estrada estão por um fio, talvez por mais 100 dias.

Para alguns, ainda não vivemos no melhor dos mundos. Pode ser. No entanto, fomos salvos na undécima hora por alguém tão esperto como o mar. Perdoem-me o exagero, mas ele (o libertador) não topou a briga, preferindo abraçar o rochedo. E nós, pobres mortais, talvez tenhamos simbolicamente descoberto o anjo depois de uma relação tempestuosa com o demônio. Simbolismos à parte, o fato é que estamos vivendo em 100 dias o que não conseguimos sonhar em quase 1,5 mil noites. Iniciado por Joe Biden, a China consolida o fim do castigo imposto pelos verdadeiramente mais poderosos ao Brasil. A esperança brotou e, a partir dela, renasceram a alegria, a paz, a liberdade e, principalmente, a deferência e o apreço internacional. Hoje restou a certeza de que o poder do povo é bem maior do que as pessoas que estão no poder.

Embora não tenha sido respeitado nesses quatro anos, respeito opiniões contrárias. Mestre dos mestres, Deus não agrada a todos. Luiz Inácio também não. Todavia, se ele quer mudar as coisas é bom que esteja preparado para desagradar alguns. Pelo menos está tentando. E sem mentiras. Dita por Lula, a verdade é que o Brasil não aguenta mais tanto ódio e uma polarização arcaica, consequentemente sem futuro. Amado ou não, Luiz Inácio recolocou o país na mesma mesa das potências econômicas do planeta. Em Pequim ele se reúne com o presidente da China, Xi Jinping, com quem assinará cerca de 20 acordos bilaterais. Apesar de o fantasma expurgado do Planalto nunca ter percebido, os chineses são nossos maiores parceiros comerciais. Por isso, a importância da chegada de Lula àquele país asiático.

Como Notibras publicou ontem (11) de manhã, estamos de volta à mesa dos ricos. A próxima parada será no Japão, entre os dias 19 e 21 de maio, na cidade de Hiroshima. Para informar às viúvas do mito, semana passada o primeiro-ministro japonês, Fumio Kushida, telefonou para Lula formalizando o convite para o Brasil participar da Cúpula do G7 – grupo das sete economias mais industrializadas do mundo. Isso a Globo não mostra, mas, desde 2009, é a primeira vez que o país é convidado para o evento. Enquanto isso, Jair Messias se transformou literalmente em uma espinha (na verdade três) na garganta de Valdemar Costa Neto, o líder partidário que não dá ponto sem nó. Desde que as despesas sejam pagas com dinheiro público, é claro.

A última de suas peripécias futurísticas foi aumentar o salário da pastora Michelle Bolsonaro. Ela trabalha no Partido das Lágrimas (PL) desde março, onde ganha R$ 39,2 mil mensais. A partir deste mês, ela passará a receber R$ 41,6 mil, o mesmo que o bispo Jair Messias. Esses salários são pagos com recursos do Fundo Partidário, isto é, com dinheiro do povo. Neles não estão incluídos os valores do Exército e os da Presidência da República. Somados, devem ultrapassar os vencimentos de qualquer eleitor que insiste em se manter emburrecido. É tudo por dinheiro. Se mal pergunto, o que o bispo e a pastora fazem pelo Brasil para merecerem din dins tão expressivos? Não sei, mas sei que nunca fizeram nada. Aliás, nada ainda é muito.

Luiz Inácio está na China, devolvendo o Brasil ao lugar de onde nunca deveria ter saído. Saiu por causa da desastrosa atuação do mito do fim do mundo, hoje todo enrolado com a Justiça por conta das joias de R$ 16,5 milhões que imaginou suas. O futuro da pátria amada não é mais utopia. Quanto ao do Messias, ele está logo ali, mas precisamente nas mãos de Xandão, o juiz que não se vendeu e que não teve medo de fakes. Pelo contrário, são elas que determinarão os próximos passos da vida política do Jair. Imagino o que acontecerá após a decretação da provável inelegibilidade. Será que Valdemar continuará sustentando pesos mortos? E como se comportarão os bolsonaristas que ameaçaram detonar o país? Essa resposta é mais fácil: estão se borrando de medo de uma quase certa condenação. Alguns choram na prisão, se dizem arrependidos e já começam a achar que há vida fora do bolsonarismo.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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