Apenas oito dias após ser atingido por um ciclone bomba e ainda contabilizando os prejuízos, parte do estado de Santa Catarina volta enfrentar severos fenômenos climáticos que, mais uma vez, já causam estragos também no Rio Grande do Sul.
Entre a noite de terça (7) e a madrugada desta quarta (8), o sul catarinense foi afetado pela formação de uma frente fria associada à formação de um novo ciclone extratropical, bem menos potente que o da semana passada. Segundo o governo estadual, a cheia de dois afluentes do Rio Mampituba alagou ruas e isolou comunidades em Praia Grande, a cerca de 30 quilômetros de Torres (RS), na divisa com o Rio Grande do Sul.
Ao menos 80 casas foram alagadas no bairro 1º de Maio e 70 pessoas tiveram que ser levadas para um abrigo improvisado no ginásio municipal de esportes. Outras foram para as casas de parentes ou amigos. A Defesa Civil estima que, em poucas horas, o nível do rio subiu cerca de cinco metros antes da chuva cessar, perto das 6h da manhã, e ele voltar a baixar.
Em sua página no Facebook, a prefeitura de Praia Grande alertou a população sobre o estado de alerta máximo. Imagens divulgadas pela prefeitura mostram ruas alagadas e homens trabalhando durante a noite, sob forte chuva, tentando retirar parte da lama e do entulho acumulado em vias públicas.
Segundo a Defesa Civil estadual, além de derrubar as temperaturas e favorecer a formação de chuvas fortes que aumentam os riscos de deslizamentos, alagamentos e enxurradas, principalmente ao longo de toda a divisa com o Rio Grande do Sul, a frente fria deixa o mar agitado no litoral sul catarinense até pelo menos a noite desta quinta-feira (9). Neste período, as ondas devem atingir entre 2,5m e 3m – razão pela qual atividade como pesca, navegação marítima e banhos de mar devem ser evitados enquanto estas condições persistirem.
Estragos
Esta manhã, o governo de Santa Catarina divulgou uma relação parcial dos danos que o ciclone bomba que atingiu a Região Sul no último dia 30 causou em 233 cidades catarinenses – 207 dos quais já registraram seus prejuízos no Sistema de Informação de Desastres (S2ID).
De acordo com o governo catarinense, as perdas já ultrapassam R$ 541 milhões. Só a agricultura contabiliza um prejuízo da ordem dos R$ 304 milhões. Em relação os prejuízos em residências a soma chega a R$ 40,1 milhões.
O valor final, no entanto, tende a ser muito maior, já que importantes setores afetados ainda não apresentaram seus cálculos. Só o setor elétrico, estima-se, pode ter sofrido um impacto superior a R$ 2 bilhões. A força dos ventos e a queda de árvores romperam fios, cabos de fibras ópticas e afetaram torres de transmissão. Mais de 1,5 milhão de unidades consumidoras tiveram o fornecimento de energia elétrica interrompido.
De acordo com a secretaria estadual de Educação, 412 escolas precisarão de algum tipo de serviço de recuperação estrutural. Isto equivale a 38% do total de unidades de ensino estaduais – que estão sem realizar atividades letivas presenciais desde o dia 19 de março, em virtude da pandemia da covid-19. Grande Florianópolis, Itajaí, Jaraguá do Sul, Blumenau e Brusque foram as regiões com o maior número de escolas atingidas pelo ciclone bomba que, das 36 coordenadorias regionais de ensino, só não causou danos aos estabelecimentos de São Miguel do Oeste.
Os reparos das avarias consideradas de pequeno e médio porte que não demandem projetos de engenharia (troca de telhado, manutenção na fiação elétrica e obras de conservação do prédio) devem começar a ser feitos já a partir de hoje, valendo-se de contratos de manutenção civil já existentes. Já os casos mais graves, em que será necessária a reconstrução do prédio, exigirão a aprovação de projetos e a realização de processo licitatório para contratação específica, o que deve retardar o início das obras.
Há também a necessidade de assistência humanitária às pessoas diretamente afetadas, como a entrega, emergencial, de lona, e a doação de telhas. Segundo o governo catarinense, já foram distribuídas cerca de 84 mil telhas a pessoas cujas casas foram destelhadas.