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Páscoa alquímica

Ciclo de morte e renascimento é símbolo do processo transformador

Publicado

Autor/Imagem:
Marco Mammoli - Texto e Imagem

A Páscoa, como celebração de morte e renascimento, guarda paralelos muito ricos com a alquimia, especialmente se pensarmos não só na alquimia como protoquímica, mas como filosofia espiritual e simbólica. A morte e o renascimento são o coração da Obra Alquímica. Exatamente como a Páscoa cristã que comemora a morte (Crucificação) e a ressurreição de Jesus Cristo. Esse ciclo de morte e renascimento é um símbolo direto do processo alquímico de transformação interior.

Na alquimia espiritual, o alquimista também “morre” simbolicamente, purga os aspectos impuros ou grosseiros de si mesmo, para então renascer numa forma mais pura, mais iluminada. Isso corresponde à fase Nigredo (putrefação) seguida da Albedo (purificação) e da Rubedo (iluminação). O ovo é um símbolo Alquímico e Pascual. Atualmente é um presente que se popularizou na forma de chocolate, porém, tem origens simbólicas muito mais antigas.

O Ovum Philosophicum é uma imagem central da alquimia. Representa o recipiente no qual ocorre a transmutação, o microcosmo onde o caos inicial (matéria prima) é transformado em ouro espiritual, portanto, também carrega essa ideia de potencial de vida, de renascimento e de transformação. O cordeiro Pascal e o sacrifício remontam à tradição judaica do Pessach, em que o sangue do cordeiro marcava os umbrais das portas dos hebreus no Egito protegendo-os da décima praga. No cristianismo, Cristo é o “Cordeiro de Deus”, sacrificado pela salvação da humanidade.

Na alquimia, o sacrifício também está presente, pois a matéria-prima deve ser “sacrificada”, dissolvida, despedaçada, para que possa renascer em uma forma superior. É a mesma lógica dos solve et coagula. Os três dias em que Cristo permanece no túmulo antes de ressuscitar espelham as três fases tradicionais da Obra alquímica:

• Nigredo (a morte, o túmulo, o caos),

• Albedo (o início da purificação, a luz que começa a surgir),

• Rubedo (a ressurreição, a plenitude, o ouro filosofal).

Essa estrutura tríplice é comum tanto na tradição cristã quanto na simbologia hermética. Alguns alquimistas cristãos, como Jacob Boehme ou Paracelso, interpretavam o Cristo como o próprio ouro espiritual — a meta última da transmutação. Logo, a ressurreição seria a realização da Obra, a união do espírito com a matéria purificada. A alquimia cristã pode ser vista como uma adaptação estratégica e simbólica da alquimia tradicional e hermética, forçada a sobreviver sob o peso da repressão inquisitorial e das estruturas dogmáticas da Igreja. Muitos alquimistas usaram uma linguagem cristianizada como forma de ocultar seus verdadeiros ensinamentos, revestindo seus tratados de termos bíblicos e teológicos para escapar da censura.

Então, as comemorações atuais da Páscoa ainda conservam elementos alquímicos?

Podemos dizer que sim, mas de maneira residual, inconsciente e simbólica. Muitos dos rituais e símbolos da Páscoa moderna, mesmo diluídos pelo tempo e pela cultura de massa, ainda manifestam verdades alquímicas profundas.

A Morte (Nigredo) pode ser comparada a Sexta-Feira Santa. Um momento de silêncio, luto e reflexão, representando a fase negra da alquimia, o ponto de decomposição, onde o antigo deve morrer. É o estágio em que o ego é confrontado com o vazio e a dissolução. Mesmo aquele que participa disso religiosamente sem conhecer alquimia está tocando esse arquétipo.

O vazio criativo (Albedo), é o sábado Santo. O dia intermediário, entre a morte e a ressurreição, é muitas vezes negligenciado, mas na alquimia ele é essencial. É o tempo da purificação pela espera, da clarificação da matéria. É o intervalo em que o caos começa a se organizar. Simboliza o ventre da transformação.

A Páscoa (Rubedo) é o domingo de Páscoa, a Ressurreição. É a culminação do processo, a fase de Rubedo, o rubor, o nascer do Sol interior. A luz venceu a escuridão. Em termos alquímicos, o espírito e a matéria foram unificados. Em termos cristãos, a vida venceu a morte. Mesmo no contexto secular da Páscoa moderna, com ovos coloridos, festas e luz, ainda ecoa essa celebração do retorno da vida. O Ovo de Páscoa, ou a Embalagem do Mistério, tornou-se tradição comercial, infelizmente. Ele representa o universo em miniatura, a matéria primordial, a promessa de vida. Pintar ovos, escondê-los, para depois revelá-los são atos ritualizados de busca, revelação, nascimento. Ritos que deveriam ser mantidos.

A Páscoa é uma festa cíclica. Muito bem representada pelo arquétipo da Roda da Fortuna, do Tarot. Ela é uma festa móvel, que segue o ciclo da Lua, o que mostra sua origem pré-cristã e sua conexão com os ciclos naturais e cósmicos, tão importantes à alquimia. Sua data depende do equinócio de primavera no hemisfério norte e da primeira lua cheia que o segue, como se o próprio tempo cósmico determinasse o renascimento. O símbolo máximo da cristandade, a cruz, também pode ser visto na alquimia como a representação do vaso, ou crisol, da dor e da transmutação, onde a matéria prima do ser é sacrificada para que o espírito seja libertado.

Cristo no altar do sacrifício, na cruz, é o mesmo que o metal impuro no cadinho: ambos precisam passar pelo fogo. Ao compreender a Páscoa como ritual alquímico, rompemos o invólucro dogmático e acessamos o Mistério: a eterna promessa de que toda morte encerra um nascimento, e todo chumbo pode, um dia, tornar-se ouro. A Páscoa, celebrada ao longo dos séculos, sobrevive como um rito poderoso que resiste à banalização. Quando vista sob a luz da alquimia, ela revela sua verdadeira natureza: um caminho iniciático de morte e renascimento, de dissolução do ego e emergência da luz interior. Entre o dogma e o Mistério, a escolha é do buscador.

Que cada Páscoa seja, portanto, um passo a mais na Grande Obra do ser. Mesmo que sem consciência disso, em meio a tantos símbolos e simbologias, a sociedade moderna ainda encena os mistérios alquímicos em suas comemorações pascais. A forma mudou, o conteúdo foi diluído, mas os símbolos permaneceram. Uma boa Páscoa a todos!

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Marco Mammoli é Mestre Conselheiro do Colégio dos Magos e Sacerdotisas.

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