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Cidade Livre, berço da epopeia de Brasília, tinha de tudo um pouco para muitos

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José Escarlate

Final de 1957 – O comércio na chamada Cidade Livre não tinha horários rígidos e atendia a todos, a qualquer hora do dia ou da noite. A distribuição dos lotes era feita pela Novacap. Documento tornava claro que o núcleo pioneiro seria uma cidade livre e que iria desaparecer tão logo a futura capital estivesse pronta e oferecesse condições para atender a população.

Em fevereiro de 1957, na Cidade Livre, já funcionavam duas padarias de pequeno porte. Havia também açougue, dois bares e dois armazéns, que vendiam de um tudo. Para abrigar esse povo todo, um verdadeiro mar de barracas de lona em volta de um arremedo de rua, com o pomposo nome de “Primeira Avenida”. Para atender os mais abastados, havia dois hotéis, bastante modestos.

Eles poderiam funcionar sem alvará desde que cumprissem o termo de ocupação firmado com a Novacap. Era uma questão de honra. Naquela ocasião, o Hotel Brasília foi o primeiro deles. Depois, veio o Hotel Santos Dumont, bem mais traquejado, com três andares de apartamentos para receber hóspedes mais ou menos endinheirados, além de varias hospedarias, com banho, sem banho e com banheiros que serviam tanto a homens quanto a mulheres, indiferentemente. O Santos Dumont tinha, além de banheiro masculino e feminino, um bom restaurante, onde vez por outra Israel Pinheiro aparecia para almoçar. Era o Copacabana Palace local.

A cada dia, ônibus, caminhões, jardineiras e muitas camionetas despejavam nesse núcleo pioneiro centenas de homens e mulheres que vinham tentar o direito à vida na capital da esperança, como chamou Brasília o ministro da Cultura da França, André Malraux. O material para as obras chegava por um arremedo de estrada de rodagem, passando por Anápolis.

A estrada ligando Anápolis e o nada de Brasília era usada para a chegada de cimento, ferro, aço, e tijolos, que iriam incrementar a construção da nova capital. A palavra chave era trabalho, das seis e meia da manhã às 10 da noite, inclusive domingos, feriados e dias santificados. Havia ainda quantidade imensa de operários que trabalhavam o turno da noite. Meta: cumprir o prazo estabelecido por JK de construir a nova capital do Brasil em mil dias. Candangos trabalhavam 24 horas por dia. Era o chamado ritmo de Brasília. Havia, ainda, os acampamentos das empreiteiras.

A poeira fina, vermelha, permanente, cobria tudo. Entrava pelas narinas das pessoas, invadia casas e, em muitos casos, provocava problemas respiratórios em crianças e adultos. Volta e meia se formava um aluvião, uma nuvem vermelha partida do chão e que alcançava os céus. Isso várias vezes ao dia, em todo o Planalto Central.

PV

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