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Ciência entra em cena para suprir uma maior demanda por alimentos

Adalberto Luis Val

A humanidade continuamente desenvolve e incorpora técnicas de produção, conservação e armazenamento de mantimentos. Apesar disso, hoje o desafio do setor de produção de alimentos é ainda maior, uma vez que temos que produzir mais em menos tempo. Inclusive, de acordo com um estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a demanda por alimentos deverá aumentar em 60% até 2050.

Para satisfazer tal procura, a expectativa é de que a produção mundial deva chegar a 22 bilhões de aves, 1 bilhão de porcos, 1,6 bilhão de bovinos e búfalos, 2 bilhões de ovelhas e cabras. Por isso, o setor está sob pressão significativa para melhorar suas técnicas de produção e seus métodos de alimentação desses animais, de modo que garantam a produção em larga escala, mas mantendo a sustentabilidade do planeta.

Um dos principais passos que a humanidade tem de dar nessa direção é o de entender que a solução não virá de uma única fonte ou de uma única área do conhecimento. Para se otimizar a produção, será necessário um esforço interdisciplinar e multidisciplinar e que, entre tantas iniciativas, também envolva o aprimoramento de pesquisas genéticas, tanto de espécies da fauna como da flora.

Nesse ponto, além da óbvia importância dessas pesquisas para o melhoramento da cadeia produtiva, o fator chamado mudança climática –que pode impactar diretamente tanto a relação dos organismos com os seus ambientes como a proliferação de pragas– exige esforços para o desenvolvimento de linhagens geneticamente adaptadas e resistentes a novos cenários climáticos, bem como o mapeamento do risco potencial de pragas.

Outro ponto que precisa de atenção é a necessidade de se melhorar a qualidade do forrageamento e da ração para animais sob criação. Além de permitir o melhor aproveitamento dos nutrientes, é preciso ainda garantir a diminuição da emissão de gases do efeito estufa pelos animais durante o processo de digestão, assim tornando a cadeia de produção de proteína mais limpa e sustentável. Isso deve ser feito sem perder de vista a necessidade de se garantir a qualidade desses produtos para o consumo de uma população que cada vez mais leva em conta como a saúde e o bem-estar serão impactados.

Espécies de plantas nativas com elevado valor energético e nutritivo para a alimentação de animais constituem uma alternativa ainda pouco explorada pelo agronegócio. Além de algumas espécies serem perfeitas para o uso como suplementos alimentares, elas também podem contribuir para expandir a produção de regiões que são pouco exploradas para esse fim, como o semiárido brasileiro e as regiões mais áridas da África. Essa iniciativa é uma importante forma de: aproveitar as potencialidades locais; diversificar as áreas produtoras e as espécies produzidas; e garantir a variabilidade genética e a segurança alimentar dessas regiões.

O relatório “O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo”, apresentado em 2015 pela ONU, indica que 795 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo. O continente africano ainda é a região do mundo que exige mais atenção. Cerca de 23% de sua população está subalimentada, o que representa mais de 200 milhões de pessoas. Produzir alimento para enfrentar esse desafio é vital, principalmente porque essa situação pode se agravar em face das mudanças climáticas.

Nesse sentido, é preciso usar a ciência cada vez mais, unindo informações científicas à capacidade produtiva da indústria para baratear o acesso às tecnologias de última geração. Além disso, é necessário garantir a escalabilidade desses produtos para que resultem de fato em alimentos na mesa de todos. Para atingirmos o nível de desenvolvimento que precisamos para o Brasil é imprescindível o estímulo, nas mais diferentes áreas do conhecimento, à produção científica nacional.

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