Cientistas viram São Tomé e atestam sistema solar bizarro, onde brilham três estrelas
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emÉ o sistema planetário mais estranho já encontrado. No centro, uma estrela um pouco maior do que o Sol. Na periferia, duas estrelas menores, orbitando uma em torno da outra, enquanto também avançam juntas numa dança com a estrela maior. E, entre a estrela central e a binária, um mundo similar a Júpiter — onde, aliás, os astrônomos sempre pensaram que, pela teoria, não deveria haver planeta algum.
É tudo tão esquisito – escreve Salvador Nogueira, do Mensageiro Sideral -, que os cientistas precisaram ver para crer — e isso resultou na primeira descoberta de um exoplaneta feita pelo instrumento Sphere, uma nova câmera especialmente projetada para fotografar diretamente o brilho sutil desses astros sem luz própria, em meio ao clarão de suas estrelas-mãe. A pesquisa, que tem como primeiro autor Kevin Wagner, da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, foi publicada online nesta quinta-feira (7) na revista “Science”.
O Sphere está instalado no VLT (Very Large Telescope) do ESO (Observatório Europeu do Sul), no Chile. E a descoberta foi feita em torno do trio de estrelas conhecido pela sigla HD 131399, localizadas a 320 anos-luz da Terra, na constelação do Centauro.
Configuração bizarra – A rigor, os astrônomos não esperavam encontrar nada parecido com isso, pois elas parecem contrariar o esquema padrão de formação planetária. A variação gravitacional do sistema é tão grande, com uma estrela maior no centro e outras menores na periferia, que havia a convicção de que o ambiente seria instável para planetas na posição em que esse gigante gasoso foi encontrado.
E, no entanto, ele está lá. Cálculos realizados pelos astrônomos sugerem que existe, sim, a possibilidade de ele ser estável onde ele está _mas a essa altura não dá para dizer com certeza que esse seja mesmo o caso. Até porque o sistema é bastante jovem, com “apenas” 16 milhões de anos. Pode parecer muito, mas é um piscar de olhos em termos do tempo de vida das estrelas, usualmente medido na escala dos bilhões de anos. O Sol e seus planetas (Terra inclusa) têm 4,6 bilhões de anos, por exemplo.
O segredo da descoberta consiste exatamente na juventude do sistema: embora ele já esteja totalmente formado (não há sinais de disco de poeira em torno de nenhuma das estrelas), o calor de formação do planeta gigante ainda é grande o suficiente para que ele possa ser detectado pelo Sphere. Estima-se que sua temperatura superficial esteja em torno dos 577 graus Celsius e ele tenha aproximadamente quatro vezes a massa de Júpiter.
De acordo com os pesquisadores, a detecção desse sistema bizarro mostra que a natureza é de fato muito mais criativa na confecção de sistemas planetários do que julgávamos possível. A essa altura, existe uma boa chance de que o planeta HD 131399Ab esteja numa órbita estável. Mas a variação de gravidade no sistema é tão grande que ele não obedeceria às leis de Kepler, que descrevem com exatidão movimentos planetários como os do Sistema Solar, que envolvem uma única estrela.
Perguntas e respoostas – Diante do mistério, não está claro também qual é a origem desse planeta. Ele provavelmente não se formou onde está hoje. Uma das alternativas é que ele tenha se formado mais perto da estrela principal, mas também não se descarta que ele tenha se originado ao redor do par binário e depois tenha sido “roubado” pela estrela maior.
Os astrônomos estimam que ele leve cerca de 550 anos para completar uma volta inteira em torno de seu sol principal, mas ainda há bastante incerteza nisso — é improvável, mas pode até ser que ele esteja sendo neste momento ejetado do sistema!
De toda forma, sua posição parece estranha, 16 vezes mais afastada da estrela principal do que o nosso Júpiter está do Sol.
Se por um lado a observação direta dificulta estimar coisas como o período orbital, por outro lado a captação de luz emanada do planeta permite a análise de sua composição. Os cientistas conseguiram detectar tanto metano quanto vapor d’água na atmosfera desse “superjúpiter”.
Futuras observações devem ajudar a determinar se ele está mesmo numa órbita estável e onde exatamente ele pode ter nascido.