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Cine Brasília apresenta II Festival do Cinema Gay

Paulo Victor Chagas

Com uma bandeira nas cores do arco-íris enfeitando a enorme estátua do Troféu Candango que guarnece a entrada, o Cine Brasília recebeu nesta quinta-feira (22) a abertura do II Festival Internacional de Cinema LGBTI. A programação de filmes que tratam da temática dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans e intersexo vai até o próximo dia 2 de julho, exibindo obras premiadas e reconhecidas internacionalmente.

A inauguração do segundo ano da mostra contou com a presentação de uma peça da Cia de Teatro Bisquetes. Diariamente, o festival vai apresentar um longa e um curta-metragem. Ao todo, serão exibidos 14 filmes de 14 países diferentes, além de dez curtas selecionados a partir da campanha internacional da Organização das Nações Unidas (ONU) “Livres & Iguais”. O webdocumentário Pop Trans, que relata as dificuldades de acesso à educação e ao trabalho por homens e mulheres transexuais, será o representante brasileiro na mostra.

De acordo com Lívia Dantas, oficial de Direitos Humanos da Embaixada da Dinamarca, organizadora do festival, parte dos filmes são baseados em histórias reais, com é o caso de A Garota Dinamarquesa, exibido hoje, cujos atores tiveram destaque no Oscar em 2016. Ela acredita que o cinema tem o poder de incentivar as “transformações sociais” e gerar o debate na sociedade.

“O filme Priscilla – A Rainha do Deserto, por exemplo, é um filme que, na verdade, é muito conhecido, mas as pessoas acabam não lembrando que a temática está lá. Alguns outros filmes que a gente vai ter, a temática está lá sendo discutida e abordada. Pode não parecer o ponto principal do filme, mas a ideia é justamente chamar a atenção, mas mostrar que é uma coisa cotidiana, do dia a dia, normal”, afirma.

O estudante Thiago Almeida concorda com a organizadora. “Acho muito importante [festivais como esse] para a valorização da diversidade, porque é uma forma de abrir os horizontes, conhecer novos mundos e dar importância para questões que muitas vezes são negligenciadas”, elogia.

Elogiando o apoio de outros países ao evento, a professora de inglês Nayara Alves conta que, atualmente, não se vê representada nos cinemas tradicionais. “Não só pelos estereótipos femininos, mas por ter um reflexo muito padronizado, como se toda mulher bem-sucedida representasse um certo padrão. Eu demorei muito tempo para começar a ficar com mulheres, e acho que poucos filmes retratam essa dúvida, esse momento de descoberta sexual, que muitas vezes a gente passa”, afirma.

Já Lucas Rocha, outro estudante, avalia que o festival poderia ter sido mais divulgado e expandido para outros lugares do Distrito Federal. O Cine Brasília fica na Asa Sul do Plano Piloto, o que, de acordo com Lucas, colaborou para uma certa “elitização” do primeiro dia da mostra.

“Seria muito interessante expandir esse festival para áreas das periferias, porque realmente é onde o LGBT passa mais preconceito, querendo ou não, envolvendo a parte física. E também, pela ignorância maior, por não ter fácil acesso a esse tipo de conteúdo, costumam ser pessoas mais conservadoras em suas opiniões. Não conseguem ter uma opinião mais aberta”, explica.

Com entrada franca, o festival conta com o apoio e organização das embaixadas da Austrália, Bélgica, Dinamarca, dos Estados Unidos, da França e Países Baixos, da Alemanha, do Canadá, Reino Unido, da Croácia, Noruega e Suécia.

Ao notar a presença de muitos países europeus no suporte ao evento, Nayara Alves chama atenção para a realidade no Brasil, onde ocorre um assassinato de pessoas LGBT a cada 25 horas. “A gente quer copiá-los muitas vezes economicamente, mas em alguns quesitos de liberdade individual há um conservadorismo”, critica.

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