Há exatos 31 dias do golpe de Estado que não veio, poucos brasileiros ainda lembram que Jair Messias Bolsonaro um dia presidiu a República chamada Brasil. Embora a sequência de mal feitos seja inesquecível, não sei se faz bem o povo esquecê-lo com essa rapidez. Da safra inesgotável de políticos medíocres, o fascista perverso, machista, racista e homofóbico preferido dos riquinhos doidões e infelizes por natureza ainda vai agonizar politicamente. E agonizará de forma tão triste como aqueles dos quais zombou criminosamente durante o auge da pandemia de Covid 19. Líder dos talibãs que, em 8 de janeiro, imaginaram ter atingido o Panteão da ignorância, fez história no Congresso e na Presidência como aquele que, além do desprezo pela democracia e da perseguição a comunistas, índios e LGBTQIA+, nada produziu de útil para a nação.
A bem da verdade, infelicitou um país alegre e imbecilizou um bando de seguidores despombalizados desde o berço. Por conta de seu desgoverno, qualquer futura pesquisa de audiência sobre sua passagem pelo Planalto lhe dará no máximo alguns traços. Para quem se dizia cristão, seu legado de ódio também é inesquecível. Tanto que, quatro meses depois da acachapante vitória de Luiz Inácio, seu nome não sai do noticiário. A diferença é que, agora, a maioria da produção jornalística advém da editoria de Polícia. Quem faz a fama é para se deitar na cama. Pai da mentira e mentor declarado das fake news, Bolsonaro já perdeu um expressivo número de fãs, é contestado pela multidão e acabou nas mãos do xerife Xandão, o ministro que não perdoa os apaixonados pelo golpismo barato, maldoso e rasteiro.
Sem perseguição, mas com os rigores da lei, Xandão tem reservado para os coveiros desempregados da democracia aconchegantes kits de 4 metros quadrados nos puxadinhos das principais penitenciárias do país. Na Papuda, em Brasília, estão concentrados os mais raivosos. Nada mal para os que incendiaram a República e fizeram do país um caldeirão que não para de ferver. Ou seja, mesmo com a lona cheia de buracos, o circo golpista comandado pelo pipoqueiro do coliseu em ruínas continua armado. E tudo em nome de Deus. Uma pergunta que já me cansei de fazer, mas que continua na boca do povo é sobre as conquistas da sociedade durante os quatro miseráveis anos do governo do Jair. Houve alguma? Sinceramente, gostaria de enumerá-las, mas não me lembro de duas.
De imediato, memorizei apenas a continuação do Bolsa Família, mérito de outrem e do qual ele se apropriou indevida e grosseiramente. Como agiu com o Exército e os eleitores, que também não eram seus, fez caridade com o chapéu alheio. Além de fazer pouco caso da vida durante a pandemia e da quase extinção da reserva Yanomami, são de sua lavra o isolamento internacional do Brasil, o sigilo relativo à podridão, as motociatas com nosso din din e, o pior de tudo, o financiamento da gasolina que ajudou a atiçar a fogueira da loucura de sua trupe terrorista. Desnecessário narrar o desfecho de um governo que fez muito mal à nação. Fez, refez, mas sempre negou.
Por conta de sua fama, ninguém acreditou no chororô, tampouco nos infantis argumentos para justificar a fuga para os Estados Unidos. A situação é tão interessante que alguns dos principais colunistas do país ainda não tiveram oportunidade de se debruçar sobre as ações positivas ou negativas da administração de Lula da Silva. Embora não esteja na linha de frente dos escribas, os escândalos em série do desconsiderado personagem do além também contribuíram para que eu esquecesse temporariamente que temos um novo mandatário. Queiram ou não, Bolsonaro, filhos, mulher, agregados e políticos sem votos terão de engolir Lula. Quanto a mim, preciso arquivar de vez o que vi e ouvi no período do caos nacional.
É difícil, mas fundamental para que eu pare de gotejar no papel textos sobre enganação, mentira, zombaria, descontrole, inverdade, insanidade e ódio. Amparado por mais de 60 milhões de votos, Luiz Inácio é, de fato e de direito, o presidente da República. Apesar do passado ainda inconcluso, espero e torço para que ele tenha compromissos somente com o futuro. Esqueçamos o Jair, o da imbrochável inteligência artificial. Ainda que o Brasil seja uma estrada cheia de curvas e de obstáculos, não vale a pena ficar olhando pelo retrovisor. Pelo povo e para o povo, São Jorge matou o dragão. Portanto, é chegada a hora da superação. Um mês após o golpe que não veio, está provado que o país nunca esteve ameaçado pelas pessoas más, mas sim por aquelas que permitiram a maldade. Positivo e operante, o povo conteve a sanha golpista e acabou com o sonho do ditador. Ele quer voltar, mas o inferno que criou virou paraíso desde sua partida. Que o Capetão o mantenha longe de nós.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978