Na reta final do primeiro turno, o candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, fez o gesto mais explícito na tentativa de se distanciar do PT e conquistar votos de eleitores do centro. Em entrevista a uma rádio e durante agenda de campanha, ele chamou o PT de “organização odienta de poder” e disse que não vai se aliar ao partido num eventual segundo turno ou aceitar qualquer convite para assumir um futuro ministério no caso de vitória do candidato petista, Fernando Haddad.
“O PT contou comigo ao longo dos últimos 16 anos. Na medida em que eles se juntam com o Renan Calheiros (MDB-AL), que presidiu o Senado no impeachment que eles chamam de golpe, que estão juntos no Ceará com o (presidente do Senado) Eunício Oliveira (MDB), não é mais possível, para mim, andar com eles na política”, afirmou o pedetista, em entrevista à Rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul, na sexta, 28.
A fala de Ciro vem depois de sinalizações de Haddad por uma composição no segundo turno. O pedetista reiterou na entrevista que tem respeito pelo “amigo Haddad”, mas que “tem feito muito mal ao Brasil de um tempo para cá”. “A Manuela d’Ávila (vice de Haddad) foi alvo de chantagem vergonhosa da burocracia do PT. Ela foi brutalmente retirada da disputa política para ser a vice. E ela estava cumprindo um papel muito bonito na pré-campanha”, afirmou Ciro.
A estratégia do pedetista parte da convicção de que Haddad já é um nome certo no segundo turno – e que o adversário que ainda pode sofrer algum revés na última semana de campanha é Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as pesquisas de intenção de voto.
Ciro deve intensificar as declarações contra o PT e continuar repetindo que ele é o único capaz de superar a polarização, pacificar o País e vencer os radicalismos. “Tenho condições de dialogar com o centro, com a direita e com a esquerda”, afirmou na entrevista à rádio.
O candidato do PDT oscilou na campanha entre acenos ao centro e à esquerda. Ciro viu frustrada sua tentativa de se aliar ao Centrão – bloco liderado pelo DEM e formado por PP, PRB e Solidariedade – e, após manobra do PT, não conseguiu fechar uma coligação com o PSB.
Porém, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, ainda era oficialmente o candidato do PT ao Palácio do Planalto, o pedetista fazia questão de manter pontes entre o partido e a esquerda.
Em sabatina realizada pelo Estado, no início de setembro, por exemplo, o candidato do PDT chegou a dizer que, se tivesse de escolher entre “coxinhas” e “mortadelas”, ele preferiria o lado dos “mortadelas”.
Em uma nova inserção, veiculada nas redes sociais desde ontem, e que deve ir ao ar na TV hoje, Ciro se “oferece” como alternativa aos eleitores que não querem nem Bolsonaro nem o PT. “Quero me dirigir a você que está votando contra alguém ou contra algum partido. Tem gente que vota no Bolsonaro, não pelo Bolsonaro, mas por ser contra o PT. E eu entendo as razões. Tem gente que vota no PT, não pelo PT, mas para evitar o Bolsonaro”, diz Ciro na propaganda. “Mas a única certeza nessa disputa é que o Brasil vai continuar dividido e a crise vai se aprofundar. Será que a gente aguenta?”
Essa orientação vem sendo aplicada em Estados nos quais Ciro precisa melhorar o desempenho, como Minas Gerais. “Estamos dizendo ao Ciro há muito tempo que essa fidelidade, lealdade, fidalguia, que ele tem com Lula não corresponde ao comportamento do PT. A gente tem que se afastar, porque estamos a dez dias da eleição”, disse o deputado Mário Heringer (PDT-MG). “Espero que (esse discurso) atraia (o voto antipetista), porque esse é um voto de 70% dos brasileiros.”