Ciro Gomes se veste do Brizola pró-Jango, critica ‘golpistas’ e cria um escudo pró-Dilma
Publicado
emWalter Samp’Dorya
Figura de proa da cena política tupiniquim, Ciro Gomes volta ao centro dos holofotes contra o impeachment de Dilma Rousseff. O que se projeta, garante, é um “golpe” que, se consumado, vai gerar uma crise de duas décadas no Brasil. Em sua avaliação “o beneficiário dessa ruptura da democracia e dessa potencial crise para durar 20 anos é ninguém menos do que o senhor Michel Temer, o capitão do golpe”.
Ciro, que chegou a ser citado recentemente como eventual substituto de Joaquim Levy na Fazenda, afirma que Temer é um “parceiro íntimo” de Cunha. Para ele, o vice-presidente “conspira há algum tempo” contra Dilma.
“Tenho informações a respeito. Lá atrás, ele (Temer), visitou esses grupos que organizam manifestações. Mais recentemente fez uma declaração sintomática, de que um governo com 7% ou 8% de popularidade não se sustenta”, argumenta.
Questionado em entrevista à revista Carta Capital sobre a origem de suas conclusões, o ex-ministro sugere que “basta pesquisar a quantidade de medidas provisórias que o Temer despachou ao Cunha para que ele pudesse incluir o que no jargão parlamentar chamamos de jabuticabas”. São, na realidade, “emendas ilegais para gerar privilégios a grupos econômicos dos quais eles tomavam dinheiro”. Manobra que, segundo Gomes, gerou um impacto de 80 bilhões de reais nos cofres da União.
Ainda mirando contra Temer e Cunha, ele dispara: “Temer é o homem do Cunha, e não o inverso. Parte importante das loucuras que faz é por estar completamente comprometido. É só o jornalismo brasileiro fazer uma pergunta simples: ‘Senhor vice-presidente, qual é a sua opinião sobre as denúncias contra o presidente da Câmara?’”
Trincheira virtual – Enquanto Ciros, em frente das câmeras, ajuda a esfarelar o impeachment de Dilma Rousseff, longe delas, no Facebook, ele reúne mais de 63 mil pessoas num grupo cuja bandeira fala por si: Golpe Nunca Mais. Algo semelhante ao que o pedetista Leonel Brizola fizera em 1961, com a Rede da Legalidade. O objetivo na época: mobilizar a sociedade para assegurar a posse de João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros e assim evitar um golpe.
Mais de meio século depois, surpresa do destino ou não, o ex-ministro encontra-se filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) – partido criado por Brizola – e encabeçando um movimento semelhante ao do pedetista, só que agora com suas trincheiras nas redes sociais.
A dedicação irrestrita de Ciro Gomes contra um provável golpe, ajuda a dar musculatura a sua mensagem. “O impeachment não é como o recall, previsto na Constituição de alguns países como remédio para um governo ruim. O Brasil não dispõe desse dispositivo. Corremos o risco de colocar no comando do País alguém sem legitimidade, comprometido medularmente com a corrupção. E isso passa um recado ruim, de que o mandato popular não vale nada. Qualquer ajuntamento de picaretas pode interrompê-lo”, enfatiza.