A candidatura de Cléber Lopes à presidência da OAB em Brasília levanta uma questão inevitável: será que ele conseguirá garantir a independência da Ordem? Não é preciso voltar muito no tempo para lembrar de situações em que a proximidade entre dirigentes da Ordem e figuras políticas influentes gerou sérias dúvidas sobre a imparcialidade da instituição, ou, para empregar um termo jurídico, criou jurisprudência condenatória.
Há precedentes, claro. Em 2009, Francisco Caputo, então presidente da OAB do Distrito Federal, também era advogado pessoal do governador José Roberto Arruda, no auge do escândalo do “Mensalão do DEM”. A relação próxima entre Caputo e Arruda foi suficiente para gerar desconfiança sobre a atuação da Ordem, que foi criticada por sua postura discreta durante o processo de impeachment. A dúvida pairava no ar: a quem Caputo realmente representava?
Esse episódio deixou uma marca indelével na história da OAB-DF, reforçando o temor de que vínculos pessoais possam comprometer a isenção necessária para liderar uma entidade tão importante.
Candidatura questionada
Cléber Lopes segue uma trajetória que inevitavelmente provoca comparações. Ele é advogado pessoal do governador Ibaneis Rocha, ex-presidente da OAB local, e conta com seu apoio explícito na disputa. Embora isso, por si só, não desqualifique sua candidatura, é suficiente para lançar uma sombra de dúvida sobre sua capacidade de manter a instituição distante das influências políticas.
Adversários de Cléber perguntam, com um tom pra lá de justo que ecoa em grupos de WhatsApp, se o candidato ‘do Buriti’ terá a autonomia necessária para enfrentar o governo, se for o caso, ou para defender a advocacia sem receios? Sua proximidade com Ibaneis é um fator que não pode ser ignorado e levanta questões legítimas sobre até que ponto a independência da Ordem poderá ser garantida sob sua eventual (mesmo que com chances mínimas) gestão.
Falta confiança
Mais do que uma ameaça, a candidatura de Cléber representa um grande ponto de interrogação. A advocacia da capital da República, avaliam os advogados, precisa de uma liderança que inspire confiança e que, acima de tudo, seja capaz de demonstrar, na prática, seu compromisso com a classe e com a sociedade.
A experiência de Caputo deve servir como alerta: a independência não é apenas uma questão de discursos, mas de atitudes concretas. Cléber Lopes terá de provar (o que se mostra pouco provável) que em caso de vitória poderá navegar por essas águas turbulentas sem comprometer a credibilidade da Ordem.
A história recente da OAB mostra que a independência é um ativo precioso, mas vulnerável. A candidatura de Cléber Lopes levanta questões que não podem ser ignoradas, mas que também só poderão ser respondidas com o tempo. Até lá, a advocacia e a sociedade devem permanecer vigilantes, cobrando uma gestão que coloque os interesses da classe acima de qualquer influência política.
Em função desse quadro, é cada vez maior a convergência em direção a Everardo Vevé Gueiros e Paulo Poli Maurício. Enquanto um entende que é preciso coragem para mudar, outro preconiza a continuidade, embora com ajustes aqui e ali.