Brasília vive um clima tenso nas últimas horas, diante da expectativa de o procurador-geral da República Rodrigo Janot, apresentar denúncia ao Supremo Tribunal Federal contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) e o ex-presidente da República senador Fernando Collor (PTB). Os dois são suspeitos de se beneficiarem do esquema de corrupção na Petrobras.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) deve denunciar, entre esta quarta-feira, 19, e amanhã, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o ex-presidente e senador Fernando Collor (PTB-AL) por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. A informação foi confirmada à Agência Estado por fonte com acesso às investigações.
A reação de Cunha, ao ser informado da pretensão da PGR, foi enfática:
– Não vou comentar absolutamente nada. Quando tiver fato, eu comento o fato”, limitou-se a dizer. O deputado recebeu a notícia quando chegava a um restaurante de Brasília para almoçar, com mensagem postada em seu celular.
Logo depois de ler a mensagem, Cunha seguiu tranquilamente rumo a uma mesa no fundo do salão, onde sentou-se ao lado da senadora mexicana Blanca María Alcalá, presidente do Parlatino. Fez um pronunciamento breve e trocou presentes protocolares com a mexicana. Depois do almoço, o presidente continuou conversando com a parlamentar e foi interrompido apenas uma vez pelos cumprimentos dos deputados Rubens Bueno (PPS-PR) e Raul Jungmann (PPS-PE).
As denúncias, por corrupção e lavagem de dinheiro, serão as primeiras envolvendo políticos com prerrogativa de foro. Elas são baseadas em depoimentos de delatores da Operação Lava Jato e em provas colhidas pelo Ministério Público Federal em diversas fases da investigação, entre elas as buscas em imóveis de Collor, na chamada Operação Politeia, em julho.
O senador do PTB é suspeito de receber R$ 26 milhões em propinas, entre 2010 e 2014, desviados da estatal petrolífera. Esses recursos teriam sido usados para a compra de carros de luxo, apreendidos no mês passado pela Polícia Federal.
Cunha foi citado por um dos delatores da Lava Jato, o empresário Júlio Camargo, como beneficiário de suborno de US$ 5 milhões. O valor teria sido pago para facilitar a assinatura de contratos de afretamento de navios-sonda entre a Samsung e a Diretoria Internacional da estatal, controlada pelo PMDB.
Tanto Cunha quanto Collor negam participação em desvios e se dizem vítimas de perseguição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.