Arma-se mais uma trama maquiavélica no âmbito da Câmara Legislativa, que volta a ser um puxadinho do Palácio do Buriti sem precedentes. Deputados sérios estão entrando no barco sem imaginar a tormenta que virá pela frente. E outros parlamentares, também sérios, serão jogados na lama para permitir que o barco zarpe sem maiores suspeitas.
Toda a disputa tem por alvo duas comissões – de Assuntos Fundiários e de Constituição e Justiça. Os projetos das presidentes Telma Rufino e Sandra Farah vão fazer água. Os botes salva-vidas (não das deputadas, mas dos interesses que estão por trás das mudanças) serão representados por Wellington Luiz e Chico Leite.
O alvo maior é a cobiçada área da 901 Norte, que Agnelo Queiroz tentou vender, mas foi impedido pela reação da sociedade civil organizada. O povo, porém, será burlado, mais uma vez atropelado, e a lei, alterada, permitirá que aquela área se transforme em milhões de reais sabe-se lá em benefício de que, ou de quem.
Toda essa artimanha envolve diretamente a presidente da Câmara Celina Leão e (pasmem!) o ex-senador cassado Luiz Estevão, condenado como sócio do ex-juiz Lalau na construção da sede do TRT de São Paulo. O elo da ligação entre os dois é Valério Neves, secretário-geral da Mesa Diretora. A bucha de canhão é Toninho Pop. A primeira vítima, Mino Pedrosa. O alvo maior, entretanto, é a sociedade, que será prejudicada para que políticos alcancem objetivos nada republicanos.
A ação maquiavélica teve início há pouco mais de 15 dias. Valério procurou Luiz Estevão, em nome de Celina. Os três dividiram um lauto almoço. A presidente foi ao encontro com um discurso decorado. Vislumbrava projetos de interesse também do ex-senador, mas havia uma montanha no caminho que precisava ser removida. A montanha atende pelo nome de Mino Pedrosa.
Vencedor de inúmeros prêmios jornalísticos, entre os quais três da principal categoria Esso, Mino estava incomodando com seu programa Retrato Falado, da Rádio OK FM, onde fazia as vezes de porta-voz da insatisfação da sociedade, que mandava por meio do quadro Brasília como ela é, pau nos gatos que atuam nos subterrâneos lúgubres da política brasiliense.
Luiz Estevão, dono da rádio e de vastas extensões de terras no Distrito Federal, ouviu uma ameaça subliminar de Celina. Ou Mino saía do ar, ou a Câmara Legislativa aprovaria projeto para incidir impostos vultosos não sobre a soja que se colhe num mundo a perder de vista, mas sobre a terra onde se plantando tudo dá. Inclusive chantagem.
A deputada tocou na ferida. Cansado de administrar tantos problemas, o empresário fez a opção mais fácil. Toninho Pop, que arrenda a emissora, tentou ferir os brios de Mino, reconhecidamente, para usar um jargão popular, um homem de pavio curto. O arrendatário jogou no horário do Retrato Falado mensagens publicitárias do governo Rodrigo Rollemberg, como quem diz ‘fala mal de mim (o governador), mas recebe meu dinheiro’.
Foi a gota d’água que provocou uma busca incessante por Mino Pedrosa. De outras emissoras, claro. De outros veículos de comunicação, que sonham ter em seus quadros um dos poucos profissionais que acumulou tantos prêmios na imprensa brasileira.
Essa é a história que se conta nos bastidores sobre o racha na OK FM, que silenciou temporariamente o miado do gato. Antes, os gatunos se fartaram com salmão e vinho branco francês. Agora pretendem fazer tilintar ainda mais as moedas que enchem seus cofres. A ideia é a de que da Quadra 901, terra cara, muito dinheiro seja colhido. A não ser que a sociedade se levante mais uma vez. E que o miado do gato soe forte em outro microfone.
José Seabra