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Cadeira de Jr

Com duas pules de 10, disputa na OAB pode ser definida por fotochart

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José Seabra - Foto Produção Fernanda Camargo

Ligam-me de Brasília. São velhos amigos advogados (alguns advogados velhos) eleitores, cada um a seu gosto, de uma das cinco candidaturas à cadeira de Jr. Apresentam-me números díspares. Pedem minha opinião. Como jornalista vota para a direção da Fenaj, e não da Ordem, permito-me comentar com isenção: pelas informações que chegam à sucursal Nordeste de Notibras, a polarização entre Paulo Poli Maurício e Everardo Vevé Gueiros cresceu nas últimas horas. A eleição será neste domingo, 17.

A um de meus interlocutores cheguei mesmo a associar a eleição a um hipódromo, com dois puro-sangue polarizando a eleição e um cavalo paraguaio – no caso em questão, Cléber Lopes -, ficando na rabeira. Como essas costumeiras conversas servem até como terapia, sugeri, em tom de brincadeira, a necessidade de o “fotochart” indicar o vencedor. Fotochart, para quem não está acostumado à expressão ‘pule de 10’, é um recurso eletrônico usado quando não é possível determinar visualmente o vencedor do páreo. A interpretação também é aplicada em outras situações, principalmente no meio político, para descrever o fim de uma disputa eleitoral acirrada.

Metáforas à parte, e deixando o humor de lado, é notório que a disputa está apertada. O cenário eleitoral é tenso, intenso e imprevisível. Ao longo de 53 anos de jornalismo, aprendi que na capital do País, onde os corredores dos poderes político e jurídico se cruzam, a batalha pela presidência da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil é um espetáculo à parte. Mais do que uma simples eleição, trata-se de um embate de projetos, ideologias e egos, revelando muito sobre o papel da advocacia em tempos de transformações sociais e políticas.

Na presente eleição, de um lado, o grupo da situação apresenta a continuidade como bandeira. Exalta os avanços conquistados nos últimos anos, como a ampliação de serviços para advogados iniciantes, a luta por prerrogativas e o fortalecimento da presença feminina na advocacia. De outro, a oposição se coloca como o antídoto contra o que chama de “engessamento institucional”, prometendo renovação, inclusão digital e maior transparência administrativa.

Os debates dos últimos dias foram intensos e, por vezes, passionais. Os candidatos não apenas falaram de suas plataformas; defenderam narrativas sobre o que a advocacia do Distrito Federal precisa ser. Os bastidores fervilharam com articulações de alianças, reuniões estratégicas e até algumas acusações de práticas questionáveis. Ao mesmo tempo, os corredores dos tribunais e os eventos jurídicos tornaram-se arenas paralelas, onde discursos velados e alianças improváveis chegaram a ser costuradas. Porém, como empregaram linhas frágeis, os entendimentos logo se transformaram em trapos de mendigos.

A votação começa em poucas horas. Estima-se que o resultado seja conhecido por volta das 20h30. Pode ser algo tão fantástico como o programa da Vênus Platinada que estará sendo apresentado no mesmo horário. Até porque, muitos advogados ainda olham os candidatos com certo ceticismo. Meus interlocutores confidenciaram que uma acentuada parcela dos seus coleguinhas questiona o quanto essa disputa realmente impactará o cotidiano da advocacia. Será que os eleitos trarão melhorias concretas, ou apenas perpetuarão o jogo político que parece tão distante da realidade de quem carrega o peso das demandas nos ombros?

Cabe registrar que a eleição deste domingo não é apenas uma questão interna; o pleito reflete o momento vivido pela advocacia brasileira como um todo. Em tempos de polarização e desafios à democracia, a Ordem se mantém como uma das poucas instituições com credibilidade para defender o Estado de Direito. O próximo presidente da seccional, portanto, não será apenas um representante dos advogados locais, mas uma voz que pode ecoar em debates nacionais cruciais.

Em uma coisa meus confidentes concordam: enquanto as urnas aguardam os votos, a advocacia brasiliense observa, avalia e, sobretudo, espera. Não por promessas vazias ou discursos eloquentes, mas por lideranças que entendam que, no Direito, mais do que palavras, valem as ações. Afinal, o verdadeiro protagonismo jurídico se constrói com ética, competência e comprometimento – dentro e fora das salas de audiência.

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