Com os Jogos, o Rio muda e continua lindo – quem sabe até mais um pouquinho
Publicado
emEduardo Paes
“A cidade hoje está melhor do que era. O grande legado é a transformação”. A afirmação não é minha nem de algum outro político ou autoridade carioca. Ela foi feita na semana passada pelo presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Thomaz Bach, durante visita ao local que abrigará a pira olímpica, na região portuária –uma área histórica que foi revitalizada em pleno centro do Rio.
Muito mais do que um simples elogio ou ato de gentileza, as frases remetem a quase sete anos atrás, mais especificamente ao dia 2 de outubro de 2009, quando o Rio de Janeiro foi anunciado como sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Ao elegerem o Rio em vez de Chicago, Madri ou Tóquio –metrópoles dotadas de melhor infraestrutura urbana–, os dirigentes das confederações esportivas deixaram uma mensagem clara: os Jogos deveriam ajudar a levar benefícios reais à cidade-sede.
Com esse recado na bagagem, era hora de arregaçar as mangas e iniciar o trabalho para encarar um desafio gigantesco, tão grande quanto a oportunidade aberta pela escolha: organizar o maior evento do planeta e, ao mesmo tempo, mudar para melhor a vida dos moradores do Rio. Daquele dia até hoje, foram muitos os obstáculos que tiveram que ser transpostos, mas não há dúvidas de que o objetivo foi cumprido.
O tão falado legado não é mera abstração ou lugar-comum típico de discursos. Ele é bem concreto e já está sendo usufruído pela população. Para cada R$ 1 gasto em estádios, outros R$ 5 foram investidos em obras de infraestrutura, mobilidade e renovação urbana para os cidadãos. As Olimpíadas funcionaram como catalisadoras de investimentos que tornaram realidade projetos aguardados há décadas.
Prometemos 17 obras de legado no dossiê de candidatura e fomos além: entregamos 27. Assim, foi possível requalificar uma área de 5 milhões de metros quadrados na região portuária, antes degradada e escondida pelo Elevado da Perimetral, que renasceu como um novo polo de lazer, cultura e negócios.
Também saíram do papel uma nova linha do metrô, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e a construção de 150 km de corredores de BRT, que interligam mais de 100 bairros. Com essas intervenções, sempre prometidas mas nunca executadas, o número de cariocas com acesso a transporte de alta capacidade no Rio saltará de 18% para 63% da população. A zona Norte ganhou reservatórios de controle de enchentes; a zona Oeste, um inédito e extenso programa de saneamento; e as favelas, projetos de urbanização e ampliação dos serviços públicos.
São apenas alguns exemplos de melhorias inspiradas pela oportunidade de sediar os Jogos Olímpicos. A preocupação com os benefícios para a população também foi permanente no planejamento dos locais de competição. O Complexo Esportivo de Deodoro é um caso emblemático. Situado em uma área com raras opções de entretenimento e com um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano da cidade, será transformado no Parque Radical, o segundo maior espaço de lazer do Rio, que já pôde ser aproveitado no último verão. Além disso, moradores de Deodoro e bairros vizinhos, no entorno da bacia do rio Marangá, passaram a contar com uma rede, até então inexistente, de saneamento.
Além de priorizar o legado, o projeto Rio 2016 teve como meta a economia de recursos públicos. Só para se ter uma ideia, 80% das despesas com arenas e operações do evento foram custeadas pelo setor privado. Nos Jogos de Londres em 2012, a proporção foi inversa: 82% de dinheiro público. E mais: Londres desembolsou somente para erguer seu Estádio Olímpico o mesmo que o Rio usou para construir todas as instalações do Parque Olímpico e do Complexo Esportivo de Deodoro, além do campo de golfe e da adaptação do estádio do Engenhão.
Com estruturas mais simples, porém funcionais, a edição carioca das Olimpíadas conseguiu um feito inédito em relação a outras cidades-sede: gastou 35% menos do que o previsto na candidatura para estádios e operação.
Esse modelo provou-se bem sucedido. Ao conseguir atrair fontes privadas de financiamento e com uma gestão fiscal responsável, foi possível reverter o dinheiro do contribuinte em investimentos para suprir as principais demandas da população, principalmente da parcela com menor renda. A rede de atendimento primário de saúde, que só abrangia 3,5% da população há oito anos, chegará a 70% no fim deste ano. A construção de mais de 300 escolas permitiu a expansão do turno único na rede municipal de ensino. Na comparação com os gastos olímpicos, o que foi aplicado pelo município em estádios para os Jogos representa menos de 1% dos R$ 65 bilhões empregados desde 2009 em saúde e educação.
Há ainda mais um pilar que sustentou o projeto dos Jogos Olimpicos, além do foco no legado e na economia de recursos públicos: o uso e o aproveitamento das instalações olímpicas pós-Jogos, evitando os temidos “elefantes brancos”. Desde o início dos preparativos, traçou-se a diretriz de utilizar ao máximo estruturas temporárias e que pudessem ser reaproveitadas. É o que acontecerá como o estádio de handebol, que será transformado em quatro escolas municipais, e o centro aquático, que dará origem a dois ginásios esportivos em áreas mais pobres.
Nesse balanço é preciso reconhecer que não faltaram dificuldades nos últimos sete anos –desde as obras que impuseram sacrifícios à população carioca, especialmente na questão da mobilidade, até a deterioração do cenário econômico nacional. Mesmo assim, a prefeitura do Rio –responsável por 94% das instalações e equipamentos esportivos– entregou tudo, respeitando prazos, custos e sem “elefantes brancos”. E mais: honrou o compromisso assumido há sete anos de fazer dos Jogos uma oportunidade de melhorar a vida do cidadão.
Nunca foi dito que a Olimpíada iria solucionar em tão pouco tempo todos os problemas da cidade, que ainda são muitos. Mas é inegável que houve transformações profundas, e para melhor. Esta será a marca da Rio-2016, os jogos do legado.