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Combustíveis fósseis colocam em risco matriz energética brasileira

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A recente divulgação de importantes dados sobre as mudanças climáticas acendeu, mais uma vez, um sinal de alerta para a população mundial. No começo de novembro, o IPCC (painel sobre mudanças climáticas da ONU) apresentou seu novo relatório sobre o tema. Segundo Rajendra Pachauri, diretor do IPCC, “a influência humana no sistema climático é clara e não deixará nenhuma parte do mundo intocada pelos impactos que estamos vendo diante de nossos olhos”.

O documento registra que dentre os principais impactos esperados pela intensificação do aquecimento global destaca-se o risco para a produção de alimentos, questão sensível para todos.

O relatório também culpa as emissões de gases de efeito estufa (GEE) resultantes da queima de combustíveis fósseis (carvão, derivados de petróleo e gás natural) por grande parte do problema, critica o uso irrestrito dessas fontes de energia e também projeta que, por conta da necessidade de substituição dos combustíveis fósseis por alternativas mais limpas, o uso dos combustíveis renováveis deveria atingir 80% do setor de energia até 2050.

Na sequência, tivemos a divulgação pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação da segunda edição do relatório “Estimativas Anuais de Emissões de Gases de Efeito Estufa”.

Por fim, o Observatório do Clima, rede de organizações da sociedade civil que atuam no tema, apresentou sua análise. O que chama a atenção nesses dois estudos sobre a evolução das emissões de GEE no país é que, independentemente de diferenças metodológicas e períodos de análise considerados, ambos mostram que essa emissão, originada do uso intenso dos combustíveis fósseis, vem crescendo continuamente e tende a aumentar nos próximos anos.

Segundo o estudo do governo federal, a emissão dos GEE cresceu 35,9% entre 2005 e 2012. Já o levantamento do Observatório do Clima reporta um aumento de 7,3% de 2012 para 2013. De fato se observa uma gradual carbonização da matriz energética do país, considerada uma das mais limpas do mundo, e que está ficando “suja” por conta da intensificação do uso de combustíveis fósseis.

Infelizmente isso coloca o país na contramão das necessidades ambientais, sociais e tendências internacionais. Incompreensivelmente, a melhor alternativa que o país dispõe em escala comercial e imediatamente disponível para combater a intensificação do aquecimento global, o etanol, foi colocada no limbo devido a políticas econômicas e energéticas que favoreceram os fósseis em detrimento da bioenergia.

Segundo estudos de pesquisadores da Unicamp, o etanol obtido da cana-de-açúcar evita, ao longo de seu ciclo (do campo até o consumo final), 90% da emissão de dióxido de carbono que seria gerada pela gasolina.

Oportuno registrar que pesquisas internacionais estimam que o custo ambiental da gasolina, em função dos danos resultantes dos GEE gerados por sua produção e uso, atinge US$ 0,12 por litro, valor que apresenta tendência de aumento, face o agravamento das condições ambientais.

A redução da poluição do ar que o uso do etanol possibilita é outra vantagem que não pode ser esquecida, principalmente nas grandes cidades, com efeitos sobre a saúde pública, como nos informa o professor Paulo Saldiva da USP. Ao analisar as alternativas para reduzir as emissões de GEE no país, o governo federal, em seu segundo mandato, deve ter um novo olhar para o etanol e voltar a incentivar sua produção e uso. Cabe à sociedade fazer a sua parte no combate ao aquecimento global e adotar combustíveis renováveis e de baixo carbono como o etanol.

Elizabeth Farina e Alfred Szwarc

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