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Comédia política de defender o indefensável deve ter ato passageiro

Sou do tempo em que bruxas, duendes e mitos não passavam de figuras de ficção usadas pelos dramaturgos para prender a atenção dos mais jovens, principalmente aqueles que ignoravam os conselhos dos mais velhos. Sou da época em que era feio um monte de coisas que hoje é bonito. Por exemplo, fumar e dar de costas. Sorte eu ter vivido todo esse tempo para aprender. Se mais pessoas buscassem conhecimento não teríamos tantos ignorantes falando sobre coisas que não sabem. Esconderijo da maioria dos estúpidos, as redes sociais são o novo pelourinho brasileiro. Nelas, o ignorante acha que castiga seus oponentes falando mal do que não sabe e elogiando o que não conhece. Pior é a deliberada ignorância, aquela do tipo pastelão, que defende o que sabidamente não passa de farsa.

É por isso que, além de não se enxergarem como vilões e covardes, são naturalmente vistos como factóides humanos. Defender Nicolás Maduro é, a meu ver, jogar para uma plateia supostamente conhecida e se sujar com aquela que parecia desconhecida. Querem maior factóide do que esse? Para o filósofo Sócrates, a máxima da ignorância é como ele mesmo se definia: “Só sei que nada sei”. Segundo o dicionário Básico de Filosofia, ignorância “é a atitude daquele que, não sabendo utilizar suas capacidades racionais, engana-se quanto à qualidade de seus conhecimentos, tomando por verdade o que não passa de uma opinião falsa ou incerta e expondo-se à ilusão e ao erro”. A defesa que Luiz Inácio tem feito sobre a farsa eleitoral de Maduro é o exemplo mais atual.

Ser ou se fingir de estulto realmente é a escuridão da mente. Embora esses pensamentos tenham alguns séculos, parece que foram escritos em 2018, repetidos em 2022 e replicados até nossos dias. O fato é que, para os ignorantes sem limitações, dois mais dois são quatro somente quando é do agrado dos memeliantes. Se não há interesse, o resultado é pule de dez. É 13,17 ou 22. Portanto, a sabedoria dos inteligentes mostra que, para esses, a melhor resposta é o silêncio. Depois de perder velhas amizades, parei de discutir com os ignorantes convictos e, principalmente, com aqueles que agem dessa forma por conveniência. Tanto um quanto o outro lembram paredes. Por isso, o diálogo com eles é inútil, inócuo e sem proveito algum.

De minha parte, poderia dizer aos que acham que sabem tudo que eles estão se privando de um dos maiores prazeres da vida: aprender. Não digo por que, de acordo com a máxima da filosofia, o ignorante sempre vence uma discussão. Não pelo fato de ter razão, mas pela experiência na estupidez. Está aí a razão pela qual, mesmo com razão, normalmente prefiro deixar que somente elas falem. Desnecessário informar a que grupo de pessoas me refiro. Tenho consciência de que o primeiro passo para a sabedoria é me entender ignorante. E sou. Por isso, em tempos de ordem na casa e de empoderamento da democracia, prefiro lembrar que é no ambiente de mentiras e ignorância que a massa de bajuladores, ignorantes e prepotentes põe o mentiroso no poder. Puseram, repuseram e tentarão colocar de novo, mas não se preocupam em evitar factóides e fake news em forma de mandatários.

Do alto de minha ignorância, penso, sonho e luto por um país menos ruim e livre de aventureiros. Não desejo a perfeição, pois, além de ilusória e hipócrita, ela pode se tornar insuportável. Infelizmente, no Brasil ainda é comum perceber que os fanáticos, os ignorantes e os insensatos escolhem seus políticos com base em suas crenças e em suas convicções religiosas. Por conta disso, pessoas estúpidas se defendem criticando e humilhando semelhantes exclusivamente pela necessidade de se sentirem melhores ou superiores. O cúmulo da ignorância é quando prendem, espancam e matam achando que estão atendendo a pedidos de um deus mitológico que é só deles. A tentativa frustrada de 8 de janeiro é, portanto, autoexplicativa. E o que dizer dos que reconhecem um presidente eleito de forma fraudulenta e criminosa? Tudo já foi dito.

Apesar de reconhecer minhas limitações intelectuais, o que sei é que a ignorância é uma eterna comédia. É baseada nela que somente os mentirosos atingem orgasmos políticos com o povo. E lembrar que, como disse o Marquês de Maricá, condenamos por ignorantes as gerações pretéritas. Considerando que os ignorantes de hoje só entendem o que lhes convém, estou convicto de que a mesma sentença nos espera nas gerações futuras. Quanto a afirmação inicial, associar Lula a Maduro não é mais a pior das invenções bolsonaristas. Afinal, como explicar para o povo menos ignorante que um esquerdista raiz é contra a democracia? A história dos ditadores que lutam para se perpetuar no poder mostra exatamente o contrário.

*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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