Com autorização espiritual e da colega Sonja Tavares, editora de Política de Notibras, também faço uso de uma das mais célebres frases de Abraham Lincoln, o 16º presidente dos Estados Unidos, para, com algumas mexidas, lembrar de Luiz Inácio Lula da Silva e de Jair Messias Bolsonaro. “Pode-se liderar a todos por algum tempo; pode-se liderar alguns por todo o tempo; mas não se pode liderar a todos todo o tempo”. Vale lembrar que, fora a Divina, nenhuma liderança deve ser imaginada como dom eterno. Não foi para um e está por um fio para o outro. Se a expressão virou praga, atingiu os dois. Caso tenha sido apenas uma recomendação, que os novos caciques estejam atentos.
E não adianta achar, como acho que acharam, que podem enganar os tais alguns eternamente. Uns mais cedo, outros mais tarde, mas os que tentaram se finaram. Liderança significa confiança e merecimento e não monopólio. Quem não aposta no futuro acaba fracassando no presente. Não tenho vocação para profeta, tampouco para remodelador de mentes tacanhas, mas, considerando que a maior habilidade de um líder é desenvolver habilidades extraordinárias em pessoas comuns, os dois principais líderes desta década parecem com os dias contados.
Luiz Inácio acreditou em parte na autonomia de seus liderados. Mais radical, Jair Messias desacreditou de todos e acabou desacreditado. Tantas Lula fez, tantos ele foi que terminou fondo. Líder absoluto de uma massa que, por cansaço da mesmice ou por ojeriza ao samba de uma nota só, ele perdeu o timing e agora ou se recupera rapidamente ou assistirá o descarrilamento definitivo do bonde que pilota por 44 anos. Por razões que a própria razão desconhece, o senhor dos anéis da mão esquerda sem o dedo mínimo não permitiu a formação de novas lideranças.
Pelo contrário. As excluiu quando teve oportunidade. Em ocasiões de péssima lembrança para os simpatizantes, expurgou da legenda líderes que despontavam regional e nacionalmente. O resultado prático não poderia ser outro. O PT perdeu credibilidade. Oxalá não acabe como o PSDB. Esvaziado na teoria e na prática, aquele que foi o maior partido da esquerda latino-americana tem bons quadros, mas carece de renovação, principalmente de um novo líder capaz de, numa até agora “improvável” eventualidade, substituir Lula na corrida presidencial de 2026. Digo improvável entre aspas porque, apesar da vitória acachapante da direita nos municípios, me refiro ao agora.
De acordo com recente pesquisa da Genial/Quest, Lula tem 32% das intenções de votos, contra 18% e 15% de Tarcísio de Freitas e do ex-coach Pablo Marçal, respectivamente. Não é nada, não é nada, é o dobro dos concorrentes. Quem não tem hoje e nem amanhã é Bolsonaro. Além da incômoda inelegibilidade, ele também sofre com as sombras de Tarcísio e de Marçal, figura aparentemente competitiva e já agregada ao cardápio presidencial da direita. Enquanto isso, a esquerda continua dependente somente de Luiz Inácio e esquecida de que as ruas, o povo e o trabalhador se modernizaram. Seca e fome não elegem mais ninguém.
Hoje, as necessidades são a inclusão, o crescimento sustentável e políticas públicas capazes de atender aos angustiantes anseios da população. Tudo isso associado à melhoria da comunicação oficial, cujo atual comando é sofrível. Poucos brasileiros sabem o que o governo Lula faz e o que ele oferece. Para sorte da esquerda, a direita conquistou corações nas eleições municipais com base em discursos ilusórios e, sobretudo, na desinformação do eleitor sobre os feitos do Governo Central. Pretensos candidatos à sucessão de Jair Messias na briga com Lula da Silva nas próximas eleições, Tarcísio e Marçal terão, antes de se lançarem candidatos, de minimizar o racha na direita e na extrema-direita com a inelegibilidade de Bolsonaro e mostrar à sociedade que a sanha antidemocrática e o sonho golpista realmente são coisas do passado.
*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras