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Pretexto barato

Como explicar a devoção do pastor por um mito que já virou cinzas?

Publicado

Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto de Arquivo

No melhor estilo ku klux klan, o pastor Silas Malafaia, líder da Igreja Assembleia De Deus Vitória em Cristo, iniciou seu trabalho cristão de perseguição àqueles que, antes de babar os testículos de Jair Messias, se preocupam com o Brasil e com o sistema democrático. Os perseguidos de ocasião são dois deputados da bancada do Partido das Lágrimas (PL) que, por razões que a própria razão desconhece, não assinaram o requerimento de urgência para votação da aberração chamada projeto de anistia aos terroristas de 8 de janeiro de 2023.

Mostrando toda sua falsa adoração a Deus, ele publicou nas redes sociais os nomes dos parlamentares que desdenharam da urgência. Nada de anormal. Anormal seria achá-lo normal. Provavelmente em lugar da Bíblia, Malafaia deve portar debaixo do braço direito um Certificado de Caçador, Atirador e Colecionador (CAC). Por isso, é natural que, mais do que seguidores fiéis da seita que defende com unhas, dentes, sabre e que tais, o pastor de ovelhas desgarradas queira capachos cegos e surdos em seu rebanho do ódio.

Mais interessante do que a luta de Malafaia para salvar Bolsonaro do cadafalso é o tamanho da devoção do pastor por um mito que já virou cinzas. Anistiar os baderneiros golpistas de porta de cemitério que quase atearam fogo às sedes dos poderes da República é apenas o pretexto barato para livrar Bolsonaro do xilindró. O que pode haver por trás de tanta preocupação. Minhas dúvidas certamente são proporcionais à ânsia com que ele corre atrás do dízimo e ao incansável trabalho de “religiosos” na labuta para derrubar a democracia.

Silas, o Malafaia, e seus seguidores fingem não saber que, mais do que o Congresso ou suas lideranças partidárias, quem deve opinar sobre perdoar ou não os terroristas são os eleitores brasileiros. Será que o pastor defende Bolsonaro porque ele é golpista ou o pastor é golpista porque defende Bolsonaro? A ordem dos fatores não altera a maracutaia, tampouco cala a boca da maioria esmagadora do povo que não apoiou a tentativa de golpe da turma bolsonarista e que, portanto, não admite anistia.

Do tipo que se finge de morto para encaçapar o coveiro, o pastor está prestes a registrar no cartório bíblico uma nova fonte de renda: A Igreja Bolsonarista do Sétimo Dia, por meio da qual pretende, além de sugar até a última gota de sangue, se apossar espiritual e financeiramente de generais, ex-dependentes do Bolsa Família, líderes do tráfico em comunidades abandonadas pelo Estado, de representantes do agronegócio e de parasitas do dinheiro público. A ordem é pisar na Constituição, peitar o Judiciário e, se tiverem tempo, institucionalizar o golpe a cada derrota da direita.

Ao que parece, seja na reta ou seja na curva, o glória Deus e o aleluia de Malafaia são dirigidos exclusivamente para aqueles que lhe dizem amém. O restante do eleitorado que morra de sede e de inanição. Boa parte da população não tem rede de esgoto, segurança, educação e saúde. E o que fazem os deputados e senadores bolsonaristas? Nada que não seja articular, negociar e ameaçar meio mundo para perdoar quem sonha dia e noite com o título de imperador. Já imaginaram Bolsonaro monarca e Silas Malafaia no papel de eunuco? Quem seria o bobo da corte? Com a palavra Donald Trump, mentor intelectual de Valdemar Costa Neto, presidente do PL.

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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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