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Três poemas

Como ir da aurora ao reencontro de braços à noite

Publicado

Autor/Imagem:
Luciana Moraes - Foto Francisco Filipino

*Seção I
Com Walser e linhas sem tempo
(DANÇA-RAIZ)

O rosto do poema vem pela face da aurora, após um desvio no ocaso, e ele
morre,

neste instante novo, subtraindo as horas, para que as marcas do tempo
sejam o reencontro dos braços à noite, somando as dobras de nosso rosto sem fim,
sem fim,

para que o rosto incinere a desistência óssea dos ombros, e o eixo do poema
desabitará as horas para se aderir à teia inarticulada de um corpo sem órgãos.

Dance,
Robert. Como a água brilha no arco-íris, dançar caindo para somar cores ao
chão.

Seção II
Dos dias raros
(A EREÇÃO do caule – o devir-ser-finca – diversifica)

Pneuma

Na primavera magazine
sua última roupa
meu desejo de sua vida
e não houve
eu respiro aquela mesma primavera de seus anos
com o clima embargado
ar-condicionado

Só alguém com calor e desejante de calor
pode estar com você agora
e agora é tudo em Sempre

Você-eu-você
respiramos sem cessar
o ar natural
precisamos de afeto
catalisador
pois nunca a morfina deu o bem
mais precioso
que é estar ao lado
estar ao seu
estar ao lado
de quem se ama

Desafiando o dia de um dia
quando se dizia de mais uma morte
mas se existe a plenitude
eu lhe escuto
sempre foi bela a vida
quando era e é primavera
em tudo

Seção III
Da flor à semente
(a floração marrom)

Estudo em campo ampliado

[em diálogo ecfrástico com “O semeador” (1888), de Van Gogh]

As Labaredas de fogo do sol
querem nossos corpos
(pós-destruição)
tingidos de vida em leve toque de laranja
Amarelo azul anil entre outros tons verdejantes

Toque pontilhado em
cada membro
que se esconde à sombra
de uma árvore envergada
segue Desejando todas as chamas

As chamas que desejam
nossas culturas
em crescimento
Sazonal
para floração
matinal
na paleta de tintas
Sementes coloridas

E clari-enfáticos
Violetas derramados
num fim de tarde em brisa
querem recompor o breu do presente
com a retomada do brilho
Incorpóreo
que paira no movimento
Humano

A Tarde cai
trabalhando
contornos de silêncio
nos olhos recônditos

E quem a vê quer
dar nome
e chamar
Amanhã
de

uma

Clara

manhã

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