*Seção I
Com Walser e linhas sem tempo
(DANÇA-RAIZ)
O rosto do poema vem pela face da aurora, após um desvio no ocaso, e ele
morre,
neste instante novo, subtraindo as horas, para que as marcas do tempo
sejam o reencontro dos braços à noite, somando as dobras de nosso rosto sem fim,
sem fim,
para que o rosto incinere a desistência óssea dos ombros, e o eixo do poema
desabitará as horas para se aderir à teia inarticulada de um corpo sem órgãos.
Dance,
Robert. Como a água brilha no arco-íris, dançar caindo para somar cores ao
chão.
Seção II
Dos dias raros
(A EREÇÃO do caule – o devir-ser-finca – diversifica)
Pneuma
Na primavera magazine
sua última roupa
meu desejo de sua vida
e não houve
eu respiro aquela mesma primavera de seus anos
com o clima embargado
ar-condicionado
Só alguém com calor e desejante de calor
pode estar com você agora
e agora é tudo em Sempre
Você-eu-você
respiramos sem cessar
o ar natural
precisamos de afeto
catalisador
pois nunca a morfina deu o bem
mais precioso
que é estar ao lado
estar ao seu
estar ao lado
de quem se ama
Desafiando o dia de um dia
quando se dizia de mais uma morte
mas se existe a plenitude
eu lhe escuto
sempre foi bela a vida
quando era e é primavera
em tudo
Seção III
Da flor à semente
(a floração marrom)
Estudo em campo ampliado
[em diálogo ecfrástico com “O semeador” (1888), de Van Gogh]
As Labaredas de fogo do sol
querem nossos corpos
(pós-destruição)
tingidos de vida em leve toque de laranja
Amarelo azul anil entre outros tons verdejantes
Toque pontilhado em
cada membro
que se esconde à sombra
de uma árvore envergada
segue Desejando todas as chamas
As chamas que desejam
nossas culturas
em crescimento
Sazonal
para floração
matinal
na paleta de tintas
Sementes coloridas
E clari-enfáticos
Violetas derramados
num fim de tarde em brisa
querem recompor o breu do presente
com a retomada do brilho
Incorpóreo
que paira no movimento
Humano
A Tarde cai
trabalhando
contornos de silêncio
nos olhos recônditos
E quem a vê quer
dar nome
e chamar
Amanhã
de
uma
Clara
manhã