Pelo menos quatro termos em moda nas rodas dos que se opõem ao bolsonarismo soam para o presidente da República como lascas de frango destrinchado disparadas por mirolhos atiradores da esquerda sarnenta e comunista. Embora considerados violentos por alguns, são absolutamente verdadeiros e invariavelmente atingem em cheio a alma do líder máximo do país, com alguns estilhaços alcançando a mente estilizada de fanáticos seguidores. Despreparado, mentiroso, negacionista e golpista realmente não são adjetivos que agradem a um ser humano de porte médio. Imagina os que se acham mitos, acima do bem e do mal e têm certeza de que são melhores do que todos. Difícil aceitá-los. Impossível engoli-los. Pior ainda é afastá-los da realidade do Palácio do Planalto e arredores.
O problema é que os apoiadores nada fazem para mudar a conduta de quem pensa e age desse modo. Acham lindo as besteiras que dizem e os malfeitos que protagonizam. Realmente são deuses para as duas ou três dúzias de fanáticos que também se imaginam superiores ao chão em que pisam. A cada dia um fato novo e mais cabeludo. Por exemplo, como avaliar a seriedade de um mandatário que ouve e aceita um subordinado afirmar que racismo é um vocábulo inventado pela esquerda para promover a vitimização. A afirmação original é do presidente da Fundação Palmares, o afrodescendente que nega a raça Sérgio Camargo, mas passou batida pelo presidente que se diz do povo, a ponto de se lambuzar de farofa apenas para se promover.
Assim como diminui rasteiramente quem o cunhou, repetir o termo expõe o absurdo que é não aceitar como lógica opiniões alheias de problemas vividos por minorias estigmatizadas, sofridas e abandonadas à própria sorte. Não foi diferente com a pandemia que matou e vem matando milhões de pessoas ao redor do mundo. Da gripezinha sem importância à campanha velada sobre a desnecessidade da vacina, o cidadão e o presidente Jair Bolsonaro, apoiados por dezenas de milhares de imbecilizados eleitores, não só tentou desacreditar a ciência e as informações sobre o vírus como fez pouco caso da eficácia dos únicos medicamentos capazes de controlar a doença. E
Em nome do crescimento econômico e da manutenção do Estado, ele se manifestou contrário ao uso de máscaras e ao isolamento social. O resultado prático? Cerca de 28 milhões de contaminados e quase 650 mil mortes comprovadamente em decorrência do vírus. Apesar do excesso de carga, a nau dos insensatos negacionistas ainda não afundou porque volta e meia um passageiro morre antes. Os últimos mais conhecidos foram o pseudo filósofo (na verdade, astrólogo) Olavo de Carvalho e cantora tcheca Hana Horka, que morreu em meados de janeiro, após se infectar propositalmente com Covid-19 para ter passe livre sem vacina. Antivacina, ela passou dessa para melhor aos 57 anos. No Brasil, além dos óbitos, a fome, o desemprego e a quebradeira. Ou seja, o líder negou o que era óbvio e agora nega o caos que ajudou a gerar.
Sobre a mentira, o mais prejudicial dos atos praticados pelo mito acabou gerando um monte de dissabores para ele próprio, para o governo e para apoiadores. Consciente de que pais têm obrigação de cuidar igualitariamente dos filhos e informado que o cobertor é curto para aninhar todos, anunciou aumento de salário para sua base eleitoral, composta por policiais federais, rodoviários e penais. O tiro saiu pela culatra, pois a mentirinha animou outras importantes categorias de servidores, entre elas Banco Central, Receita Federal, Judiciário e Ministério Público. E o que dizer da viagem sem nexo para uma visitinha sem resultado algum ao amiguinho Vladimir Putin? Nada a acrescentar, pois o pífio resultado o mundo inteiro conhece. Felizmente, o presidente brasileiro conseguiu evitar um terrível traumatismo ucraniano.
Como levar a sério a austeridade de um presidente que, mesmo sem ter recursos para honrar tal compromisso, deflagra movimentos grevistas, estimulando, ao fim e ao cabo, a paralisação do Estado que gerencia. Tudo isso degenera para o terceiro termo maldito: o despreparo. Será que alguém em sã consciência acha que um líder com as características nominadas acima tem condição de se reeleger? Se acha, a solução é simples. Leve-o para administrar vosso condomínio. Se não estimular a inadimplência ou o suicídio coletivo, talvez se transforme em um síndico de sucesso. Portanto, chamem logo o síndico. Sobre o golpismo, melhor esquecer, na medida em que a tese não passou de ficção mentalizada por extremistas de quinta categoria.