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Como minimizar os danos à saúde de quem troca a noite pelo dia

Foto: Reprodução/Google

Cerca de 95% da população mundial tem o corpo biologicamente regulado para estar em atividade durante o dia e repousar à noite, informa Luciano Ribeiro, neurologista presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS). Mas é comum que pessoas não sigam este ritmo. Seja por trabalho, insônia, ansiedade ou costume, o especialista afirma que tem aumentado a quantidade de indivíduos que precisam alterar o ritmo de sono.

O efeito é que cada vez mais pessoas estão expostas a alterações fisiológicas, metabólicas e até a câncer. Para diminuir os riscos à saúde, especialistas sugerem uma rotina com alimentação saudável e horário para dormir. “O corpo precisa entender que há uma nova hora para descanso e outra de trabalho”, diz Luis Correia, clínico-geral do Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro.

Mas por que as alterações? O corpo humano tem o ciclo circadiano, um tipo de relógio biológico que regula todos os ritmos do organismo: produção das glândulas nos órgãos, atividade mental e psíquica, metabolismo, apetite e disposição. Se um desses ritmos é alterado por circunstâncias externas, por exemplo horário de trabalho, todo o organismo fica desequilibrado. A importância do ciclo circadiano é tão grande que um estudo sobre o assunto foi o vencedor do Prêmio Nobel de Medicina 2017.

​O que de fato acontece – O endocrinologista Marcelo Bronstein, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FAMESP), descreveu algumas mudanças prejudiciais ao funcionamento do corpo que tem o ritmo de sono alterado.

O neurologista Luciano Ribeiro, da ABS, comenta que as mudanças no ritmo do sono causam problemas que vão muito além dos hormonais. “Há uma desordem fisiológica, alteração da temperatura corporal, disfunções digestivas e cardiovasculares”.

Os efeitos no corpo: cai a qualidade de vida – Um estudo publicado em 2013 pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP identificou que o trabalho noturno causa problemas ao sono e à saúde. A pesquisa comparou um grupo de trabalhadores de turno entre 21h e 6h a um outro grupo, que trabalhava das 7h às 17h. A conclusão foi que houve uma queda na qualidade de vida do primeiro grupo.

Queda que foi sentida pelo jornalista Lucas Tomazelli, que por um ano inteiro trabalhou das 23h às 5h. “Nunca me acostumei, e a alimentação foi bem difícil. Indo dormir às 6h, eu acordava às 14h, com vontade de tomar café da manhã, mas já era hora do almoço.”

“Meu corpo ficava sempre muito cansado”, continua Tomazelli, que sentiu o impacto de estar ativo em horário diferente do das outras pessoas. “Eu ficava sempre mais sonolento que os outros, mas ou era isso ou eu não teria vida social”.

Ribeiro, que acredita que a privação de sono tornou-se um problema social, faz uma ressalva para os 5% da população que são naturalmente mais ativos durante a noite. Se forem impedidos de viver em seu ritmo natural, também perderão qualidade de vida. “Não se pode criticar alguém que quer e pode dormir até mais tarde. Cada um tem seu ritmo”.

Como minimizar os danos – Só depois de um tempo Lucas percebeu que seria melhor começar uma rotina. Em vez de chegar em casa e dormir, ele tomava café da manhã e ia para a academia. “Melhorou um pouco, mas era instável. Às vezes me dava sono, às vezes me acordava”.

Correia afirma que o autoconhecimento pode ser um bom aliado. “É preciso saber o que te descansa, o que te desperta, o que te faz bem, e a partir disso refazer sua rotina”. O médico sugere que se há instabilidade no horário de trabalho, é preciso haver estabilidade nas demais áreas da vida, como sono, alimentação, atividade física – seja ela qual for”.”O exercício estimula a liberação de hormônios como a endorfina, que dá a sensação de prazer e relaxamento”, explica o clínico-geral.

Quanto à reposição de substâncias, em alguns casos a de melatonina é indicada – ajuda o corpo a entender quando é dia e quando é noite. No entanto, não há comprovação científica sobre até que ponto isso é saudável, aponta o endocrinologista.

A imunidade de Tomazelli se manteve por um tempo, até que uma época ele ficou bastante gripado. O jornalista diz que engordou porque comia alimentos inapropriados, como pizza e hambúrguer, e em horários que ele considera estranhos. Hoje ele entra no trabalho às 18h e sai às 2h, e continua desadaptado. “O que mais dificulta é o troca-troca de horários”.

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