Mudanças
Como seguir em frente e se refazer após um divórcio?
Publicado
emAdriana Del Ré
Foram dois anos de namoro, mais 16 de casamento e dois filhos. Há 8 meses, a designer Larissa Siebenkaess, de 44 anos, se separou. “Na verdade, a gente se separou há 1 ano, mas continuamos juntos por causa da crise”, conta ela. Quando o ex-casal conseguiu vender o apartamento, Larissa se mudou para outro bairro em São Paulo, com os dois filhos.
Apesar da certeza da decisão, a dor foi inevitável. “Tem a sensação de fracasso horroroso, porque é um projeto de vida que deu certo por um tempo. Foi uma coisa construída juntos”, pondera Larissa. “De repente, não tem mais a quem pedir conselho, existe o peso da responsabilidade de ficar com as duas crianças. Mas não faria nada diferente, foi bom enquanto durou e, agora, bola pra frente.”
Larissa conta que os filhos sentiram as mudanças, cada um ao seu jeito, porque, além da separação dos pais, eles passaram a morar em um novo bairro e a frequentar um novo colégio. A fórmula para lidar com esse momento das crianças? “Com muito amor e atenção, é muito recente”, ressalta a designer.
Para os psicólogos Oswaldo M. Rodrigues Jr. e Carla Zeglio, refazer a vida após um divórcio implica em saber para onde se quer ir. “Na verdade, já deveria haver um plano de ação prévio ao divórcio para ser colocado na realidade, mas não é assim que vivem as pessoas que se divorciam”, observam Oswaldo e Carla, ambos especialistas em comportamento de casais e sexualidade no Instituto Paulista de Sexualidade – Clínica de Psicologia em Sexualidade.
“Ter um plano organizado para após o divórcio não parece ser comum e um período de sofrimento deve ocorrer e durar várias semanas, ao menos um par de meses. Somente após esta fase de reconhecimento da perda é que se pode refazer uma vida”, completam.
Segundo eles, no entanto, não são todos que vivenciam a sensação de fracasso com um divórcio. “Mas as pessoas que se sintam fracassadas precisam analisar racionalmente essa percepção, pois isso permitirá reconhecer emoções mobilizadoras para se dedicarem ao recomeço.”
E quando é o momento certo para se abrir para outro relacionamento? “Um novo relacionamento sempre dependerá de cada pessoa e como ela administra a perda com um divórcio. Algumas pessoas podem estar disponíveis e adequadas em poucas semanas, mas algumas precisarão de vários meses. Mas vários precisarão fazer testes, aproximando-se de várias pessoas, tentando sentir emoções positivas e construtivas”, explicam.
Quando o ex-casal tem filhos, os psicólogos ressaltam a importância do entendimento entre as duas partes. “Se os dois estão tendo dificuldades, deveriam desejar se desenvolver positivamente em prol dos filhos, para que não ocorra a alienação parental. Existem pessoas que buscam a psicoterapia para que desenvolvam uma forma de administrar as raivas e mal-estares que ainda sentem pelo ex.”
Autoestima. Há 4 anos, a depiladora Andreia Firmino de Morais se separou do marido, após 21 anos de casamento. O sofrimento foi grande. E também a sensação de que muitos problemas que tinha com o marido somente ela vivia. “Eu achava que não iria conseguir ir em frente”, relembra Andreia, hoje com 45 anos. Até que ela encontrou, no Facebook, o anúncio de um site especializado no assunto, o Bem Separadas.
“O site me ajudou, antes de tudo, a me ver, que não sou menos nem mais que ninguém, sou capaz de tudo o que eu quiser fazer. Hoje, estou tão confiante que vou começar um curso técnico”, diz Andreia, que continua a utilizar o site. “Uso para conversar com outras mulheres que estão passando pela separação. No início, é muito ruim, dói muito. Também tiro muita coisa como experiência de vida mesmo.”
Lançado em 2015, o Bem Separadas foi criado pela empresária goiana Valéria Ruiz, de 43, mãe de dois filhos, e que foi casada durante 19 anos. Valéria queria ajudar outras mulheres que passam pela mesma situação. O projeto coloca à disposição uma equipe de 25 profissionais especialistas em diferentes áreas, como jurídica, saúde, psicologia e empreendedorismo. “Quando me separei, muitas pessoas vieram perguntar como foi meu processo, como lidei com a dor e como criei coragem para romper. A partir daí, percebi que outras mulheres tinham as mesmas dúvidas e anseios que eu. Foi dessa forma que resolvi criar o Bem Separadas”, conta a empresária.
Valéria formatou essa rede de profissionais a partir das próprias necessidades que sentiu na fase de sua separação. “Para decidir me separar, busquei apoio psicológico, o qual foi de grande validade para entender o que eu realmente queria e não tomar uma decisão precipitada para mais tarde não me arrepender”, diz. “Depois da separação foi que senti o impacto de outras questões como a necessidade de um advogado de confiança, orientação financeira, orientação de como lidar com os filhos, como aumentar minha autoestima, etc. Naquele momento, percebi que eu teria que buscar cada assunto em um local e que não havia nada que reunisse orientação em todos os aspectos que somos impactados quando nos separamos.”
Apesar de o site se chamar Bem Separadas, Valéria Ruiz afirma que o projeto não é necessariamente só para mulheres. “Muitos homens nos procuram e temos até um colunista que fala sobre a visão masculina das relações. Coloquei mais direcionado a mulheres por minha própria experiência de saber exatamente quais as principais dores e os principais medos. Tanto é que, em 2018, lançaremos com domínio de Bem Separados.”