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Como seu discípulo, Trump está a um passo do abismo

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante encontro com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, em Washington (EUA).

Última chance de o bolsonarismo ganhar fôlego e manter a respiração, ainda que à base de ansiolíticos, está a um pentelímetro de ruir. Refiro-me à remota possibilidade do republicano Donald Trump retornar à Casa Branca. As eleições presidenciais dos Estados Unidos estão marcadas para 5 de janeiro. Se tudo der certo para o claudicante magnata, será a revanche do que ocorreu em 2020, quando ele perdeu de lavada para o democrata Joe Biden. Não acredito nessa possibilidade, mas, caso não haja impedimento da Justiça norte-americana, ambos novamente disputarão o cargo mais desejado do mundo. Eu não o desejaria por dinheiro algum, mas é o mais desejado pelos loucos pelo poder.

A exemplo do que ocorreu com seu discípulo brasileiro, Trump está a um passo do abismo, isto é, da inelegibilidade. Uma das razões também é idêntica à de seu vassalo tupiniquim: acusação de envolvimento no ataque ao Capitólio no dia 6 de janeiro de 2021, ocasião em que apoiadores tentaram impedir a posse de Biden. Enredo igual, palco congênere, motivos coincidentes, métodos semelhantes, ódio e desfecho análogos. Portanto, a decisão da Justiça tende a ser similar. Não há por que ser diferente. Do tipo Dona Baratinha, Joe Biden já mostrou que não é nenhuma Brastemp. Todavia, como no Brasil, melhor seguir o rumo do rio para o mar. Inverter a ordem é sinônimo de incontroláveis maremotos políticos.

Nessa quadra da vida, de movimentos belicistas ensurdecedores, nada como manter as velas alinhadas com os ventos da paz. Assim como chegamos a imaginar Jair Bolsonaro de braços dados com Vladimir Putin e ambos carregando Javier Milei no colo, imaginem Donald Trump e Putin, que já bateram virilhas, voltarem a tirar “farpas” um do girassol do outro. Deus nos livre desse infortúnio. Caso o golpe brasileiro tivesse dado certo, hoje certamente estaríamos confundindo Jair com Nicolás e Messias com Maduro. Talvez não, porque a tendência é que fossem um só. O resumo da ópera é que a volta de Trump significa o comando quase absoluto de Putin sobre a Europa.

No Brasil, tudo dependerá do sucesso ou insucesso do mandato de Luiz Inácio. É o tipo da incerteza que gera instabilidade lá, cá e em todo o mundo. Azar o deles. Claro que não. O nosso também. Na verdade, até que consigamos fechar acordos mais consistentes de troca-troca com a China, azar maior para nosotros, pois a dependência brasileira dos Estados Unidos ainda precisa ser levada em conta. Mantido o relacionamento mais próximo com Xi Jinping, correríamos menos riscos, principalmente porque, considerando o tamanho do rabanete da maioria dos asiáticos, o nabo que teríamos de engolir seria bem menor do que o dos pretos estadunidenses.

Parece brincadeira, mas, com a volta de Trump, concretamente estaremos entre o Piscinão de Ramos, o mosquito da dengue, a volta da Covid-19, o retorno da escravidão política e a liberação do funk nos cultos evangélicos. Jesus, Maria José. Além dos Estados Unidos e do Brasil municipal, cerca de 70 dos 193 países reconhecidos internacionalmente irão às urnas este ano. Ou seja, metade da população global escolherá seus governantes locais, estaduais ou federais em 2024. Muitos deles sem a liberdade de escolha. O pior de tudo é a tendência cada vez mais nítida de consolidação do populismo de direita. Xô Satanás.

Dizem os entendidos que a popularidade de Trump é assustadora. Acredito. Tão assustadora que ele perdeu para Joe Biden, um senador até então desconhecido do mundo. Igualzinho ao Brasil. Popularíssimo nas redes sociais e um dos maiores criadores mundiais de fake news, Jair Messias foi derrotado por Lula, um neófito das entranhas da tecnologia. Afirmam as viúvas do patriotismo que o sistema contra Bolsonaro é bruto. Também acredito. Tão bruto que nunca na história deste país presidente algum teve o controle da Abin, prima em primeiro grau do SNI. Bolsonaro teve e perdeu a eleição. Espero que não voltem com a cantiga de grilo sobre a urna eletrônica. Arrumem um discurso melhor. O problema é deles, mas nem Donald Trump acredita mais nessa chorumela. Tenho dito

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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