O batuque já ecoa nos becos e avenidas. É março, colado no último dia de fevereiro, e o Brasil desperta para o Carnaval, a festa que nos veste de brilho, suor e alegria. De Norte a Sul, do frevo pernambucano ao samba carioca, do axé baiano ao maracatu do Recife, cada canto do país pulsa num compasso próprio, mas todos seguem o mesmo enredo: a celebração da vida. É na rua, porque batuque na cozinha, canta Martinho da Vila, Sinhá não quer.
Nos barracões, o cheiro de tinta se mistura ao som de marteladas finais. As alegorias tomam forma, os carnavalescos conferem os últimos detalhes. Nos ensaios das escolas de samba, os ritmistas testam os corações alheios com batidas que fazem tremer o chão. E no meio do povo, anônimos viram reis e rainhas, porque o Carnaval é democrático: fantasia-se quem quer, dança-se onde puder.
Os bloquinhos serpenteiam pelas ruas como rios coloridos de gente. Ali, o operário divide espaço com o empresário, o turista com o morador, a criança com o idoso. Não há distinção: todos são foliões, personagens de um espetáculo efêmero que só pede entrega e felicidade.
Mas o Carnaval também é resistência. No Olodum, no Ilê Aiyê, nas escolas de samba que cantam histórias de luta e ancestralidade, o tambor não bate apenas pela festa, mas pela memória e pela afirmação de identidades. Em cada verso de um samba-enredo, há uma narrativa de um Brasil que canta para não esquecer.
E, enquanto a quarta-feira de cinzas ainda parece distante, o país se entrega à catarse coletiva. É o momento em que problemas se dissolvem na espuma da serpentina, e as tristezas, ao menos por um tempo, cedem espaço à folia. Porque o Brasil, apesar de tudo, sempre encontra um jeito de sorrir – e no Carnaval, esse sorriso é maior, mais sincero, mais nosso.