Bizarrice Tik Tok
Como só foge quem deve, ‘asilo’ não seria uma confissão antecipada?
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Manteiga de garrafa, paçoca, brigadeiro, arroz com feijão, rodízio de pizza e de churrasco, escovar os dentes em público, pedir a “saideira” no boteco, colocar vassoura atrás da porta para espantar visitas e convidar amigos para um almoço na residência e não dar o endereço são comidas e hábitos considerados bizarros e exclusivos do Brasil. Dizem que por aqui a galinha cisca para trás, o peru morre de véspera, homem engravida, palhaço chora quando perde a graça, prostituta sente orgasmos múltiplos, bêbados dirigem e a população não se abstém de tomar injeção na testa se a picada for de graça.
Até aí tudo bem. Nada disso ofende ou incomoda o grande público. O trem começa a descarrilar quando a gente escolhe deputados e senadores para trabalhar em benefício da nação e, tão logo ocupam suas cadeiras, as excelências decidem atuar para atender exclusivamente a grupelhos. É o caso dos parlamentares ditos bolsonaristas que faz meses só pensam em defender a impunidade dos criminosos que tentaram destruir o Estado Democrático de Direito. Se a ideia é se unir para rasgar a Constituição, por que não assumem de vez que só estão no Congresso para fornicar com o país?
Sejam honestos como os industriais que recebem Bolsa Família, com os empresários do agronegócio inscritos no programa Minha Casa, Minha Vida, como Neymar Junior, que faz contratos de seis anos, mas só joga uma semana, como Donald Trump, cuja sanha destrutiva ele não esconde de ninguém, e como os deputados do Centrão, os quais só votam a favor de qualquer projeto do Executivo se ganhar algum. São pessoas com grau de honestidade acima da média. Nenhum deles mente sem necessidade.
Uma das bizarrices mais engraçadas tem nome e sobrenome. Se dirigindo ao seu público cativo (os “patriotas” de meia cumbuca), o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro informa que será um problema preso ou morto. Usando da verve catedrática do matuto, eu disconcordo. Na verdade, o moço em questão sempre foi um problema para os seus e para os outros. Por isso, a dificuldade de seus fiéis seguidores em cacifar um cidadão com tamanha sorte e inteligência para vociferar tanta asneira e creditá-la ao destino. É a tal história de que o homem é aquilo em que acredita. Bolsonaro é daqueles que acreditam tanto em suas mentiras que deixam as verdades de lado sem qualquer preocupação.
Desde que o bicho pegou para seu lado, a pergunta que sai de sua boca com insistência pai d’égua é sobre o golpe que ele jura não ter dado. É verdade. Não deu, mas tentou. E como tentou. Justiça seja feita, mas a segunda verdade é a afirmação pública de que não sairá do Brasil. Não sairá porque não pode. Para quem já esqueceu, o ministro Alexandre de Moraes confiscou seu passaporte. Portanto, além de uma caminhada noturna à Embaixada da Hungria, o máximo será uma esticada até a Argentina, onde poderá chegar na cacunda do parça Javier Milei. Curiosa, estranha e aparentemente Tik Tok é a nova bizarrice do bolsonarismo.
Ex-chapeiro de hambúrgueres no sítio de Tio Sam, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) resolveu abandonar o mandato e se escafeder para os Estados Unidos do “irmão” Donald Trump. Como Eduardo nada fez pelos paulistas, seus eleitores agradecem o nobre gesto. O pretexto do “asilo político” é trabalhar em terras americanas contra o STF, particularmente contra Xandão. Considerando que normalmente só foge quem deve, será uma confissão antecipada de culpa? Seja lá o que for, me valho do filósofo e sociólogo alemão Theodor W. Adorno para lembrar que não há vida verdadeira dentro de uma vida falsa. Parece mal de família. Sem margem de erro, recorro ao jornalista e escritor Euclides da Cunha para afirmar que “nunca se berrou tão convictamente tanta asneira sob o sol. É asfixiante”. E nós? Sempre tomando no fuleco! E sem vaselina!
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
