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Força do mundo virtual

Comunicação dá cores vivas à imagem do Buriti

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Autor/Imagem:
Carolina Paiva, Edição/Texto original d'OBrasileiro.com

Numa tarde de janeiro passado, caminhando a bordo de um par de suspensórios cor de vinho, um gestor de um jornal brasiliense, que recusa se identificar, mostrava o seu pequeno latifúndio – agora reduzido – no 1º andar de um prédio situado no centro de Brasília. No passado, fora assessor especial, secretário de comunicação e tinha o ouvido de importantes figuras da cena política brasileira para questões ligadas à comunicação. Sabia ser espaçoso quando queria e sumir quando necessário. Hoje, possui um veículo de jornalismo com pretensão nacional com parcos acessos.

Na ocasião, faltavam pouco mais de duas semanas para o segundo mês de um ano ainda pandêmico e ” Sr. Doy”, como é identificado na correspondência, estava fascinado com a leitura do livro “Os jornais podem desaparecer? Como salvar o jornalismo na era da informação”, crônica definitiva da agonizante realidade do jornalismo. A obra é um deleite para quem atua nessa área.

“Não sei mais como identificar o jornalismo hoje. As empresas que antes eram sucesso, hoje são um fracasso. Não existe mais uma bandeira com identidade forte que represente o bom jornalismo”, constata o “Sr. Doy”. A TV perdeu total relevância, os jornais e revistas viraram coisas anacrônicas, e o rádio, como era há anos combaliu”, argumenta ele. E emenda: “mas me recuso a aceitar, vai que a moda volta”.

Exatamente há um ano, em dezembro de 2019, o Sr. Doy testemunhou um momento de guinada do mercado jornalístico, ou – para os admiradores do que é retrógrado – testemunhou apenas um momento episódico, do qual tirou ensinamentos distintos. Ele estava em uma palestra com players do mercado da informação. Os palestrantes apontaram para uma comunicação digital e mais próxima do público, o que tiraria o poder das grandes empresas de mídia. Para ele tudo que fora dito ali era sobre uma realidade efêmera.

O “novo” mercado do jornalismo
Os players presentes ao evento apontaram para o jornalismo rumando para um inexorável naufrágio, mas o Sr. Doy permanecia irredutível: “é tudo moda passageira”, disse. “Eu entendo que o modelo de jornal que conquistou a opinião pública, que já ajudou a derrubar presidentes com reportagens investigativas consistentes, vem sofrendo com a concorrência das novas mídias, mais ágeis e rápidas na publicação de notícias, mas é preciso lutar contra essa digitalização toda”.

Os principais veículos de imprensa do mundo entenderam que a missão moderna é investir no digital e estreitar laços com seus públicos. Rebeca Andrade, importante profissional de comunicação brasileira, afirma que vivemos a era da informação, época em que qualquer tema pode ser encontrado facilmente na rede em dezenas, centenas, milhares de páginas. Todos podem informar, não é mais tarefa de poucas empresas.

“Verdade e Justiça determinaram a sobrevivência dos melhores órgãos de imprensa no passado. Mas e hoje, o que faz com que os jornais desapareçam? O que jornalistas e empresários devem saber para continuarem no mercado? Na minha avaliação, uma estrutura enxuta, inteligente e com o noticiário voltado para nichos. Nesse cenário blogs e sites alternativos ganham musculatura cada vez mais definida”, diz a profissional.

Nichos de atuação
E esse olhar mais moderno inclinado para a comunicação veio de onde menos se esperava: do governo. Para tratar de modo mais preciso, veio do governo do Distrito Federal, pelos punhos e neurônios de Weligton Moraes, homem forte da comunicação da Capital do Brasil. Sua inclinação vem sendo a de fazer suas campanhas girarem 360 graus, sobretudo em blogs que conversem de modo próximo com o leitor.

De uma ponta a outra da cidade o público – que outrora assistia TV e lia jornal – toma conhecimento da atuação do governo por meio de blogs, pequenos sites especializados, Twitter, Facebook, Instagram, etc. A informação gira em maior volume e mais rápido.

“A indústria da Comunicação tornou-se algo ampliado, com linhas de negócios e novos ecossistemas empresariais. Quem não entender isso está fora do jogo ou estará em breve. Veja o caso da Folha de São Paulo, eles foram além do jornal e criaram o Uol e, a partir disso, passaram a gerar receitas com hospedagens de sites, vendas de cursos e com as maquininhas de cartão de crédito PagSeguro. Não é mais sobre informação que os grandes sobrevivem, é sobre ideias em torno da informação.”

Quem movimenta a economia
A indústria da comunicação, além de movimentar negócios de toda ordem, ainda possui grande potencial gerador de empregos, principalmente em pequenas iniciativas, como blogs e pequenos sites independentes. Mas o “Sr. Doy” é cético: “O que gera empregos são as grandes empresas, com suas novelas, grandes jornais e programas de palco; quatro e cinco empregos gerados por blogs não é nada perto das faustosas estruturas de antigamente”.

O ceticismo do “Sr. Doy” costuma bater de frente com o avassalador processo de transformação da indústria da comunicação, que impôs a necessidade de novos modelos e práticas às empresas – em especial, as brasileiras. Os formatos tradicionais de jornalismo seguem na UTI sustentados por tubos de oxigênio com uma brutal necessidade de mudanças. Isso porque o modelo de negócios sobre o qual estão fundadas está claramente ferido de morte.

Diante disso, não dá para brigar contra verbas publicitárias, contra blogs e contra fatos, o que resta é criar modelos de informação que experimentem novas propostas de valor, desta vez mais próximos do público, para se estabelecer de modo perene no mercado.

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