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Comunicação de RR, se falhar, pode sucatear astros em queda livre

Foto/Arquivo Notibras

Não há dúvidas de que orbitam a nossa política massas que ninguém conhece. Ou se conhece, não tem a menor ideia de qual a utilidade de cada uma dessas, digamos, estrelas. Nosso satélite, a Lua, pode ser identificado em crenças, poemas, músicas e momentos românticos, especialmente quando está Cheia. Aqui na Terra, onde muitos que não vivem em órbita e são obrigados a enfrentar o concreto, também existe uma parcela cheia. Cheia de tantos desmandos e inércia políticos.

O universo é dinâmico e por mais ignorante que seja o cidadão, ele sabe que deputados distritais e federais, senadores, e os ocupantes de cargos eletivos do Executivo, têm função determinada e compromisso de produzir um céu melhor para todos. Publicitar essa informação é obrigação dos poderes constituídos.

Com o mínimo de recursos é possível iniciar um processo de informação que leve ao cidadão noções básicas de como funcionam os setores públicos responsáveis pelo dia-a-dia de cada mortal comum que não brilha tanto, mas que tem a credencial para fazer chegar ao poder os satélites que lá estão.

O Governo do Distrito Federal (não de Brasília) já viveu de tudo no setor de Comunicação Social e o telescópio deve ser desligado se a ideia for olhar para trás. O problema maior tem início em um tempo distante, em desuso, em que a imprensa escrita bem conceituada reservava um poder muito grande.

Hoje, jornais e revistas impressos não apresentam índices oficiais de suas tiragens superiores a 20% das que detinham há pouco mais de uma década. A televisão aberta vive a mesma realidade. Os impressos perderam força de maneira vertiginosa. Alcançar índices de Ibope – que deixou de ser marca de uma empresa e passou a ser substantivo – nem são mais mencionados de forma comemorativa. Grandes títulos foram fechados ou faliram em função de uma nova realidade virtual.

Mas as práticas ainda são as mesmas em muitos redutos de poder. Os jornais e revistas estaduais, regionais ou nacionais de maior circulação, faziam acordos, segundo profissionais que viveram esses tempos, com os governos para favorecer a imagem de seus governantes em troca de grandes verbas publicitárias mensais, e a maioria vivia disso. Hoje estão definhando.

Outra chaga é que esse modus operandi fazia com que muitos veículos indicassem secretários de Comunicação, muitos deles elencados entre seus empregados jornalistas. Recentemente aconteceu isso no Distrito Federal (não em Brasília). E essa não é uma matéria contra a imprensa, fique claro, mas sobre a possibilidade de fazer uma governança diferente, como desejou o jornalista Hélio Doyle, o breve, que talvez não estivesse atento a esse fato em função de suas múltiplas atribuições.

Mas é importante saber utilizar a imprensa útil, aquela que saberá rever sua posição sobre os novos tempos. A Comunicação Social é composta por uma corrente de recursos e a imprensa é uma delas, mas há outras que, se coordenadas, podem economizar recursos e prestar de forma eficaz um grande serviço à sociedade. A publicidade é fundamental no processo. E ambas são elos de uma corrente que envolve a promoção de eventos, as redes sociais e até um cerimonial e porta-voz bem orientados. Enfim, um processo de conceituação das instituições a partir de uma informação clara à sociedade do que estão decidindo, porquê estão decidindo, e como farão realidade as decisões que tomam.

Isso vale para todos que exercem os poderes, quaisquer que sejam. Os responsáveis pelo setor devem ter uma visão global do conjunto e dos setores que movem a informação. Todas são igualmente importantes e auxiliares. Profissionais que reservam experiência em apenas um segmento específico, um vício da ditadura, não saberão cumprir a tarefa se não revelarem um conhecimento e visão globais de todos os recursos atuais disponíveis de uma comunicação competente e de qualidade com a sociedade.

Aí vamos continuar com deputados, senadores, mensalões, pandoras, como sempre foi. E os satélites poderão trocar de nomes para Hiperião, Ariel, Umbriel, Tétis, Dione… seres que ninguém sabe para o que servem. É o que temos hoje.

Com a contribuição de parte da grande imprensa que transforma qualquer um em astro por muito pouco, muitas autoridades eleitas atualmente e representantes do Distrito Federal nada fazem pela sociedade, utilizam um discurso repetitivo e melancólico, mas a imprensa adora – parte dela, grife-se, menos experiente –, deve achar meigos ou acima de qualquer suspeita certos políticos. Estão criando uma nova constelação que não serve pra nada. Que vai substituir outra mais antiga e igualmente inútil à sociedade.

Não são todos, claro, mas se algum dos poderes fizer corajosamente uma campanha instrucional sobre o papel e o desempenho de senadores, deputados distritais e federais, muitas pessoas de fé e observadores sérios, sem influência de manchetes e fontes equivocadas, vão saber onde depositaram seus votos: no lixo.

O governador Rodrigo Rollemberg, por exemplo, não vai ter que engolir certos personagens. Agora que ele está decidido a recriar a Secretaria de Comunicação Social, basta orientar a sociedade para que entenda como avaliar seus representantes. Será a Lua Cheia, cheia de surpresas, para muito eleitor.

Kleber Ferriche

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