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Comunicação falha, mas se quiser, Dilma pode acertar

A modernidade trouxe às sociedades contemporâneas níveis de complexidade crescentes, com a participação social se organizando para expressar suas vontades e direitos, ampliando sua interferência sobre organizações públicas e privadas de diferentes formas.

Os conflitos de interesse entre população e as organizações, nos seus diversos segmentos, exigem negociação permanente, onde a comunicação de massa, e mesmo de forma mais específica e até individualizada, é o meio indiscutível para dirimir dúvidas, estimular engajamento, e explicar o que se faz e os porquês do que se faz, ou não se faz.

No caso específico da comunicação pública, e tomemos aqui a comunicação governamental – federal, estadual e municipal – explicar o que faz, como faz, ou porque não se faz o compromissado ou previsível, e com que seriedade pratica suas ações, tornou-se vital. A sociedade exige que haja coerência de políticas e projetos com o que foi proposto nas plataformas eleitorais, que foram aprovadas tão somente porque expressavam necessidades e anseios dos eleitores no momento do voto. Daí, demonstrar que estão sendo cumpridas as propostas elencadas, em benefício do todo, ou o porquê de não estarem sendo cumpridas, torna-se fundamental.

Governos ruem não porque a grande mídia os persegue isso não existe, pois a mídia é tecnicamente “caixa de ressonância”, comprovadamente. Governos ruem porque traem suas promessas e compromissos, esvaindo-se por descaminhos diversos. Por isso, para se ter um bom diálogo com a sociedade, o primeiro passo é compromisso com o que se pregou na plataforma eleitoral, segundo, ter uma equipe séria de gestores, e que trabalhe para o interesse geral, sem interesses ideológicos partidários e até pessoais, que desabam em desvarios de toda ordem, que mais cedo ou mais tarde serão motivo de críticas e descrédito. A grande população não pertence a partido algum, ela opta por nomes e plataformas eleitorais e elege a melhor proposta, e ideologia passa longe disso no Brasil, onde a prática política é muito parecida. O que interessa ao povo é o bem-estar que o governo gere, o que indiretamente poderá beneficiar a linha ideológica no poder, mas jamais devendo se transformar um governo em centro de divulgação de linha de pensamento, o que causa dissenções óbvias e até rancores. Assim, a ideologia será reforçada pela produtividade do governo no poder à posteriori e não à priori.

Dizer que a mídia é culpada pelo noticiário negativo contra esse ou aquele governo é erro primário. Todos os governantes pós-ditadura foram centro maior da mídia, tendo apoio máximo quando lançaram bons programas, mas também tendo – como é natural – a vigilância dos meios de comunicação, que é seu papel. A mídia tão somente expressa a voz da nação, e os setores organizados ou não, são a fonte de denúncias dos desmandos, sejam a nefasta corrupção ou os inexplicáveis erros de gestão. Há sobejos estudos acadêmicos comprovando isso, e a mídia só é temida quando falta transparência e competência, com o início de denúncias jamais surgindo da mídia, que só os reproduz. E não há grupos de mídia mais, ou menos contra, quando há denúncias sérias todos os canais de comunicação entram no coro de pressão ou serão taxados de incompetentes por falha de cobertura do óbvio. Por isso, noticiários quase iguais todos os dias pelo país, para o bem ou para o mal da caminhada dos governos.

O que está posto em termos de ambiente social, é que a comunicação social torna-se ciência estratégica na relação entre empresas e seus clientes e entre governos e governados. É o instrumento mais eficaz que se tem para estimular, esclarecer e dirimir dúvidas sobre produtos e serviços privados ou públicos.

Nesse contexto, a comunicação pública correta, inexplicavelmente contestada em parte como necessária pelos órgãos de controle, é quem pode garantir o direito de informação ao cidadão e a óbvia necessidade dos governos em mostrar como estão conduzindo o interesse público para o qual foram eleitos. Esse papel cabe à comunicação indiscutivelmente, que de forma correta vise o interesse público. E não se pode direcionar essa missão apenas à área de imprensa, apenas uma desse mix, mas às suas três áreas essenciais: Imprensa (informação jornalística); Publicidade (promoção de projetos, idéias, autoestima, etc.); e, Relações Públicas (relacionamento institucional, com grupos e organizações da sociedade).

Usando os canais de mídia adequados (TV, Rádio, Jornal, Internet, Telemarketing, Mobile, mídias alternativas diversas) é possível chegar-se a toda a sociedade, onde quer que esteja para esclarecer e estimular a participação social em projetos relevantes, aumentando a co-responsabilidade e a autoestima. E quando se fala em aumentar a autoestima, que muitos alegam ser ideologização, indevida e desagregadora quando se governa, cuja missão deve ser tão somente promover o estado de bem estar geral da nação, não se fala de propaganda apenas. Cito aqui Indira Gandhi com a frase “somos pobres demais para sermos atrasados”, de 1983, quando a Primeira Ministra indiana lançou o programa tecnológico indiano, hoje um dos que mais bem sucedidos do mundo, que gerou aos indianos uma nova forma de pensar a Índia com outros olhos, não sendo apenas um slogan vazio como é normal se ver em governos. A autoestima é alavanca importantíssima a países emergentes e precisa ser trabalhada.

Porém, Comunicação Governamental não é promoção, mas fonte de esclarecimento, de onde a promoção do Governo naturalmente virá se ele estiver trabalhando com compromisso, competência, verdade e ética. Até porque se não trabalhar com essas premissas, ele próprio se aniquila, e não será a mídia que fará bondades em protegê-lo contra os interesses da população, motivo de sua existência. E controlar a mídia não significa controlar a informação, é uma bobagem totalitária que nunca subsistiu. A informação navega por “n” meios, mas, sobretudo pela percepção de que alguém está lesando alguém. Daí que todos os controles até hoje efetivados jamais resistiram a um curto ou médio espaço de tempo e apenas provocaram dissenções cruéis, perseguições e atrasos para o desenvolvimento das nações. Não devendo, e sendo impossível controlar a comunicação, melhor adequar a gestão, fazê-la idônea e compromissada, como princípio básico de se expressar bem e ser apoiado pela sociedade.

Comunicação pública só será boa se verdadeira, resultante de projetos sérios de políticas públicas e de bem-estar. Mesmo com medidas duras, o colchão de credibilidade que se cria quando há idoneidade de propósitos e ações, dará sustentação para medidas mais duras, sem se perder o apoio popular. Ao contrário, imaginar que plantar sonhos cor-de-rosa quando se sabe e se sente, no dia-a-dia, que nada vai bem, desperta imediata repulsa popular, dificilmente se conseguindo reverter a credibilidade e a condição de novos caminhos.

8 PRINCÍPIOS QUE DEVEM REGER A COMUNICAÇÃO PÚBLICA, segundo Sergio Faria:

1. VERDADE – A VERDADE É PRINCÍPIO PRIMORDIAL DE COMUNICAÇÃO COM A POPULAÇÃO.

2. DIREITO PÚBLICO À INFORMAÇÃO – INFORMAR COM TRANSPARÊNCIA AS AÇÕES DE POLÍTICAS PÚBLICAS E ADMINISTRATIVAS, PRESTANDO CONTAS DE ATOS E DECISÕES QUE IMPACTAM A SOCIEDADE, É UM DIREITO DA POPULAÇÃO E DEVER DOS DIRIGENTES INVESTIDOS DE CARGOS PÚBLICOS.

3. ANTECIPAÇÃO – É DEVER DOS DIRIGENTES PÚBLICOS PREVENIR E ANTECIPAR INFORMAÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA À POPULAÇÃO, SOBRETUDO TRATANDO-SE DE OCORRÊNCIAS COM CONSEQUÊNCIAS DANOSAS, EVITANDO CRISES.

4. LINGUAGEM – A LINGUAGEM DE TODAS AS MENSAGENS DEVE SER SIMPLES, CLARA E SEM EXCESSOS, PLENAMENTE COMPREENSÍVEL AOS NÍVEIS CULTURAIS DOS QUE SERÃO IMPACTADOS.

5. ELEVAÇÃO DA AUTOESTIMA E CIVILIDADE – DEVE SER MOBILIZADORA DA POPULAÇÃO, ELEVANDO VALORES QUE AMPLIEM A SUA AUTOESTIMA, A SUA CONFIANÇA, A CIVILIDADE NO CONVÍVIO E A SUA PROATIVIDADE, DEMOCRATIZANDO A PARTICIPAÇÃO ATIVA EM AÇÕES DE INTERESSE SOCIAL E DE DESENVOLVIMENTO.

6. VIA DE MÃO DUPLA – A COMUNICAÇÃO SOCIAL PÚBLICA É UMA VIA DE MÃO DUPLA, E DEVE TER CANAIS E INSTRUMENTOS DE CAPTAÇÃO DE ANSEIOS, QUEIXAS E DENÚNCIAS, COM O COMPROMISSO DE RETORNO, SEJAM POR MEIOS INDIVIDUAIS OU DE MASSA, GARANTINDO A PARTICIPAÇÃO EFETIVA DOS PÚBLICOS.

7. ESTÍMULO À CONSTITUCIONALIDADE E LEGALIDADE – A COMUNICAÇÃO PÚBLICA DEVE ESTIMULAR SEMPRE O RESPEITO E O CUMPRIMENTO DOS PRECEITOS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS, COMBATENDO PRECONCEITOS E DESRESPEITOS AOS DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS DE TODA ORDEM.

8. COMUNICAÇÃO INTERNA – A COMUNICAÇÃO COM OS PÚBLICOS INTERNOS DA PRÓPRIA ESTRUTURA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DEVE SER PRIORIZADA, DISSEMINANDO CONHECIMENTOS E ESTÍMULOS QUE ENGAJEM SEUS MEMBROS NO COMPROMISSO DE MULTIPLICAR DADOS E PRINCÍPIOS DAS POLÍTICAS ADOTADAS PERANTE A POPULAÇÃO.

Sergio Faria, Comunicador Social, Mestre em Marketing e PhD em Gestão

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