Em minhas andanças pelo mundo, sempre optei pela comunicação em forma de histórias grotescas ou engraçadas. Aliás, na comunicação a interpretação pode fazer toda a diferença. No dia a dia, uma conversa entre duas ou mais pessoas tende a gerar conflito quando uma das partes não alcança o que o interlocutor quer dizer, mas tem certeza de que é alguma sacanagem. É o caso de alguém desavisadamente perguntar para onde o vizinho sacaneta está viajando. A resposta simples seria a capital ou o interior de São Paulo. Entretanto, é mais pomposo usar a piada pronta e responder: Vou pra São Paulo adentro.
Com a sutileza dos paquidermes no cio, é o mesmo que encontrar o amigo de infância e ele, antes do abraço saudoso, informar radiante que a gente engordou. Como não costumo levar desaforos desse tipo para casa, sapeco a naba e entubo: Pois é. Estou com mais barriga e com “menos” bunda. Parece conversa de maluco, mas acontece entre amigos e estranhos. Sou do tipo boa índole e faz tudo, daqueles que não erra a mão no passar, no lavar e, principalmente, no cozinho. E nunca esqueço de dar atenção a um companheiro descasado.
Por exemplo, sou capaz de acordá-lo de madrugada e propor a compra de uma pizza grande. Antes que ele desperte, emendo a frase e digo que, pelo tamanho da muçarela, dá para vinte comer. Sem interesse algum, também ofereço ao parceiro meus conhecimentos caseiros. Ajudo a lavar e a engomar, mas é ele quem leva o ferro. Tenho minhas próprias opiniões e não abro mão delas. Vale registrar que opinião é igualzinho a bunda. Cada um tem a sua. Para não perder a oportunidade, se não for pedir demais, você pode me dar a sua? Opinião a respeito do que está lendo, é claro.
Não é comum, mas, às vezes, a opinião gera dúvidas. Viciado em jogos, acaba de me surgir uma ideia nova. Você tem dado em casa? Então… Meu melhor amigo não é do ferro, da pizza ou do cozinho. É um professor de natação do Colégio Militar. Morro de pena do convívio dele com os recrutas Zero, Zero Um, Zero Dois, Zero Três e Zero Quatro. Ele ensina, ensina e o zero nada. Quando jovem, tinha por hábito propor às namoradas um trato fácil de aceitar. Eu beijava-lhe a barriga, desde que ela me dissesse o plural de decimal.
Pervertidos por natureza, vemos sacanagem em tudo, inclusive no kiwi, que é peludo por fora, macio e úmido por dentro, mas não passa de uma fruta que, por acaso, rima com Cauby. Dia desses, em uma dessas praças infestadas de pombo e de aposentados, ouvi comentários a respeito de um assalto à joalheria da primeira avenida do bairro. Sem avermelhar o focinho, o velho mais velho teve a petulância de dizer ao mais novo que, ao ser abordado pela PM, o ladrão desarmado engoliu o anel de brilhantes que acabara de surrupiar.
Como hoje ninguém acredita nem na homilia de Francisco I, o idoso, com cara de sério, emendou: Certamente ele engoliu porque queria fazer um cocô joia. Sobre o larápio armado, soube que ele continua escorrendo por aí. Cansei de escrever para mentes poluídas. Graças a Deus, a minha não é. Entretanto, meu subconsciente é super fértil e minha imaginação sexy (agenária). Para encerrar o lorotário, hoje acordei com vontade de cantar. Estou à procura de um tocador de violão. Pode ser você. Se eu escolher uma música, você toca uma para mim?
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras