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Professor de Deus

Confissões e extravagâncias revelam antigos mistérios sob as batinas dos padres

Publicado

Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Editoria de Artes de Notibras/IA

A expressão “quem tem telhado de vidro não atira pedra no telhado dos outros” significa que não se deve criticar alguém caso o crítico também seja uma pessoa que comete erros. Ministros religiosos nas igrejas Católica, Ortodoxa e Anglicana, os padres são mestres em cutucar o paroquiano com vara curta. Por isso, apesar do respeito, vez por outra eles são os artistas principais de histórias nada religiosas. Sou temente a Deus, mas, por força do hábito (não o das freiras), tenho o pé atrás com os homens que vestem batina. E a razão é simplória: dos bolsos dela saem muito mais do que os dez dedos. Se não estiverem furados, deles só saem mistérios.

Antes de prosseguir com essa nada sacra narrativa, vale revelar que as batinas normalmente são pretas porque a o preto é o símbolo da morte e da renúncia. Por falar em morto, começo por indagar se alguém sabe qual é a semelhança entre um padre e uma árvore de Natal. Com certeza os homens que já passaram dos 60 sabem. É que as bolas se transformam em enfeites. Coisas que a idade explica. Aliás, chegará o tempo em que todos os homens perceberão que o saco (ele mesmo) serve apenas como medida.

Extrapolando um pouco a respeito do mote de hoje, para alguns o famigerado saco lembra a maioria dos assessores de político: colabora, mas não entra. Voltando ao padrefício, há aqueles que cortam o mal pela raiz. Foi o que ocorreu na paróquia do meu bairro, nos confins do Rio de Janeiro. Em um dia de missas encomendadas, uma paroquiana, se dirigindo ao sisudo e respeitado celebrante, quis saber dele se realmente a vizinha havia engravidado com uma oração no interior da igreja. “Foi com uma Ave Maria?” Sem pestanejar, o padre respondeu: “Não! Foi com um padre nosso, mas ele já foi transferido”.

Padre Ambrósio era sério, de poucas palavras, mas não tinha papas na língua. Ainda adolescente, eu senti isso na pele. Pego pelo laço para uma confissão, abri o jogo e disse-lhe que havia tocado nos seios de minha então namorada por cima da blusa. Quase colérico, o santo homem, além de me repreender, me chamou de besta, lembrando que a penitência seria a mesma caso o toque tivesse sido por baixo da blusa. Nunca mais esqueci a lição. Notívago, padre Ambrósio, como de costume, passava em frente ao cemitério do bairro quando ouviu sussurros e gemidos saídos de uma das covas próximas do muro.

Mais solidário do que arrecadador de dízimos, ele se aproximou, fez o sinal da cruz e perguntou se a pobre alma precisava de alguma coisa. Ao ouvir papel higiênico, o pároco chutou o muro do campo santo, quebrou o dedo mindinho e, claro, furiosamente excomungou o cagão do outro mundo. Apreciador da melhor invenção de Deus, o sacerdote era celibatário, mas jamais foi santo. Certa feita, ao atender uma morena escultural à procura de emprego, ele quis saber das qualidades da moça. Sem ruborizar, a moçoila disse que fazia (e bem) frango assado, canguru perneta, conchinha invertida, cara a cara e rabo de avestruz. Antes de concluir a explanação sobre seus atributos de marafona, ela falou sobre seu principal problema: a esterilidade.

Aliviado, padre Ambrósio pôs as mãos nos ombros da morenaça e retrucou: “Mulher de Deus, por que não disse isso logo? Vai entrando, minha filha”. Seu quarto fica no segundo andar, à esquerda do meu”. Toda essa enrolação para chegar no reverendo da igreja do sítio vizinho. Metido a professor de Deus, não podia ver um malfeito que fazia questão de corrigir o incauto onde ele estivesse. Teve o castigo que merecia ao admoestar publicamente um menino traquina que, silenciosamente, desmelecava no salão. Brabo, o presbítero, sacudindo com os dedos o nariz do moleque, lembrou que tirar meleca em praça pública é um dos acessos mais rápidos para o inferno. Pussesso da vida, o fedelho, ainda com o muco escorrendo, berrou que padre com os dedos cheirando a priquito iria para o inferno a jato. Soube recentemente que o eclesiástico está reprimindo semelhantes em Tumbalacatumba, cidade próxima de Chupinguaia.

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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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