Lembro de minha falecida mãe pedindo diariamente para que eu não me metesse em confusão. Eu era muito jovem e ainda não tinha ideia do que era de fato uma confusão. Sabia conjugar o verbo meter em todos os tempos, mas confundia confusão com, por exemplo, um buraco de formiga. Com o passar do tempo, aprendi com o amigo escriba aqui de Notibras Eduardo Martínez, que denominamos confusão o ato de tomar uma coisa ou uma pessoa por outra. Também pode ser equívoco, engano e até distração. Será? Digo isso porque já ouvi Renato Russo, o grande menestrel da Colina, dizer que andava distraído, impaciente, indeciso e confuso. Os tempos eram dedicados ao Aborto Elétrico, que, felizmente, não significava matar um feto com descarga elétrica, mas apenas uma banda de jovens que muito rapidamente alcançou o estrelato.
Anos depois, o poeta brasiliense informou que estava diferente, tranquilo e muito contente. Algum delirium extremis? Claro que não! Era apenas o seu novo eu, o gajo que havia descoberto um mundo melodioso, delirante, prazeroso e sem preconceitos. No Rio de Janeiro urbano e com diversas legiões, ele encontrou Cazuza, isto é, sua verdadeira praia. E dela nunca mais saiu. Que Deus os tenha. Como Renato, a maioria dos artistas de nossa época prefere o que é confuso, enigmático. Nada do que é explícito os atrai. A tese da rapazeada não é ganhar, mas evitar perder ou empatar. Então, não é zero a zero e nem um a um. Eita! Olha eu de volta à confusão do início da narrativa. Se não sou artista, não ganhei, perdi ou empatei, o que fiz da vida?
Abundei-me internamente de esperança pelo reconhecimento de minha segunda personalidade, pois achava que, se por um lado eu gostava, por outro também. Meu Deus! Será que sou o que jamais experimentei? Não, mil vezes não! Embora saiba que na vida existem muitas máscaras para poucos rostos, melhor parar por aqui e não explicar demais, porque sempre haverá alguém que entenderá tudo errado de qualquer jeito. Antes que pensem algo a mais, devo esclarecer que minha masculinidade já ultrapassou o estágio alfa. Agora, sou beta, gama, Flamengo e Mocidade Independente. Sei que a confusão continua. E daí? Pelo menos descobri a tempo que saco vazio não para em pé. Por isso, fico deitado a maior parte do tempo. Ou seja, não desisto dos meus sonhos. Permaneço dormindo.
Esclareço que normalmente não me deito de bruços, o famoso decúbito dorsal. Normalmente opto por aquele tipo de ladinho. É o meu jeito. Não tentem entender. Sigo a máxima de que o errado é errado, mesmo que todos estejam fazendo, e que o certo é certo, mesmo que ninguém esteja fazendo. Lembrem-se apenas que o casamento é a principal razão de qualquer divórcio. Afinal, quem nunca jogou o Danoninho na pia e a colher no lixo não sabe o que é ficar confuso. Pior são aqueles que compram limões, mas fazem suco de laranja. Hoje, meu maior aprendizado é que, entre as palavras mais profundas do mundo, há o subsolo. Eis aí minha lógica sem lógica sobre os pessimistas, que, na verdade, são os otimistas com alguma experiência. Acho que está na hora de voltar a escrever sobre nossos anjinhos da política. Corro menos risco. Será?
Como sei que existem batalhas que só se ganham perdendo, só não procuro um psiquiatra porque eles resolveram cobrar preços de doidos. Pelo sim, pelo não, sabedor de que o trabalho duro dá muitos frutos, danei a plantar árvores frutíferas. Em outras palavras, depois dos sermões de minha mãe, acho que amadureci: hoje fico triste, mas não anuncio no Twitter ou no Facebook. Ouço Waldick Soriano por uma única razão: o trem da alegria só me traz tristezas. Enfim, tudo isso para dizer que estou avaliando o carinhoso convite de Eduardo Martínez para tomar umas com ele e com José Seabra. Ainda não aceitei porque o álcool não soluciona nenhum problema. Nem a água. Na verdade, não estou dando sopa. Se três mulheres juntas são a cobra, o jacaré e o elefante, o que diriam sobre três homens na mesma mesa?
Melhor nem saber. Só respondo por mim. Mesmo sem pilha, até tenho controle, mas o preço é uma prece. E eu não pago para ver. Embora atormentado pelo silêncio de minhas notificações no WhatsApp, não tenho desculpas para deixar de estudar a vida a partir de prismas divergentes, mas com ideias convergentes. Me perdoem, mas existem ocasiões em que preciso muito de vocês e da ausência de ambos. Sendo ainda mais verdadeiro, há dias em que o silêncio é o suspiro de um grito calado. Resumindo toda essa confusão, faço minhas as palavras de Apparício Torelly, o Barão de Itararé: “A alma humana, como os bolsos da batina do padre, tem segredos inconfessáveis”. É cada qual com seu cada qual. Eu fico com os meus. Do alto de minha alma predadora e de meus conceitos alfas, mantenho a cabeça fria para ter sempre ideias frescas. Meus irmãos, estou à disposição. Sobre o abundar-se, nada a ver com a abundância.