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Carteirada contra Lula

Congresso agora exige prova de títulos dos seus parlamentares

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Reprodução/Câmara dos Deputados

Um dos representantes da oposição maldosa, vingativa e despreparada para as funções, o deputado federal Tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS) avalia que a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está completando 100 dias sem sinais positivos. Longe de mim querer analisar este ou aquele governo, mas, para o parlamentar segmentado, a sensação é de que já se passou muito tempo do início da gestão do moço de Garanhuns. Nem tanto, nobre deputado. O que me parece é que, a exemplo de alguns “colegas”, vossa excelência parou no tempo. Quer dar carteirada em pleno século XXI. Mesmo fora do quartel, vossa santidade se mantém fardado e, o que é pior, achando que os pares e os eleitores são seus subordinados. Augusto, excelso, reverendíssimo e magnífico parlamentar, o senhor e todos os que pensam e agem desse modo esquecem que são tão excelência como o pedreiro, o ferroviário, o taxista, o bancário e o torneiro mecânico que já o antecederam.

Credito sua preocupação com a patente à tese popular sobre a sujeira que faz quem nunca experimentou melado. Lembro dos meus áureos tempos de cobertura do Congresso Nacional, quando deputados e senadores preferiam ser conhecidos por seu trabalho como parlamentar. Certamente todos eram muito mais intelectualizados politicamente, mas a maioria se valia da cátedra apenas para buscar soluções para os problemas do povo. Pelo menos diziam isso. E nós, apenas soldados rasos, acreditávamos. Como já dizia o mestre Ulysses Guimarães, importante era a gestão de resultados. Não havia doutor, juiz, professor, advogado, ruralista, general, tenente-coronel, capitão, muito menos astronauta. Eram deputados e senadores. Tinham sido eleitos para isso. O povo avaliava exclusivamente suas atuações.

As aulas, o agronegócio, as continências, as ordens do dia e as consultas ficavam restritas ao campo, aos consultórios, escolas, escritórios e quartéis. Como muito mais importante era a política de resultados, as patentes e demais títulos realmente soavam irrelevantes. Parece que o Congresso de hoje não é mais regido pela política, mas sim pelos detentores das melhores ferramentas. Perdão àqueles que adoram ser conhecidos – e reconhecidos – pela credencial profissional, mas não há nada mais medíocre do que esse estrelismo suburbano. É uma situação análoga a uma doença ETernamente estonteante. Didatizando o mal, se vossa excelência acha que o mundo gira a sua volta, vá ao médico (não a um médico que virou deputado), pois pode ser labirintite.

Diria mais: a humildade é uma característica paradoxal, porque, quanto mais humilde, mais sucesso se alcança. Jamais seria eleitor de alguém que prioriza títulos. Além do meu veemente repúdio, a estes lembro que evoluir é esperar o melhor das pessoas, mesmo quando elas te demonstram o que tem de pior. No caso específico, a impressão é que o nobre cidadão é somente um patenteado e soberbo tenente-coronel, não um político. Será que seu poder político nasceu do cano de uma baioneta? Não interessa. Sinceramente, faço coro a William Shakespeare, para quem “O demônio não soube o que fez quando criou o homem político. Por isso, enganou a si próprio”. A prova de que títulos nada representam em nosso futuro de mortais me foi dada por um padre do interior brasileiro. Me vejo com algum lampejo de inteligência, mas custei a entender o que é gestão de resultado. Aprendi quando ouvi a história do padre Ildefonso.

Ela teria ocorrido na cidade de Guaraciaba do Norte, interior do Ceará, onde viviam duas mulheres que tinham o mesmo nome: Flávia. Uma era freira e a outra taxista. Quis o destino que elas morressem no mesmo dia e quase no mesmo horário. Quando chegaram no céu, São Pedro, o guardião, as esperava. “O teu nome?”. “Flávia”. “A freira?”. “Não, a taxista”. Após consultar detidamente suas notas de falecimento, São Pedro diz: “Bem, ganhastes o Paraíso. Leva esta túnica com fios de ouro quase árabes. Podes entrar e boa sorte. A seguinte”. “O teu nome?” “Flávia”. “A freira?” “Sim, eu mesma”. “Bem, ganhastes o Paraíso. Leva esta túnica de linho. Podes entrar e boa sorte”. Intrigada, a religiosa retruca: “Desculpa, mas deve haver um engano. Eu sou Flávia, a freira”. “Sim, minha filha, e ganhastes o Paraíso. Leva esta túnica de linho e…”

“Não pode ser. Eu conheço a outra Flávia, Senhor. Era taxista. Vivia na minha cidade e era um desastre! Subia nas calçadas, batia com o carro todos os dias. Dirigia muito mal, assustando passageiros e transeuntes. Nunca mudou, apesar das multas dos radares fotossensores. E quanto a mim, passei 65 anos pregando todos os dias na paróquia. Como ela recebe a túnica com fios de ouro e eu a de linho?” “Não há nenhum engano”, diz São Pedro. “É que vivemos no século XXI e, agora, estamos adotando aqui no céu uma gestão mais profissional do que vocês lá na Terra…” “Não entendo”. “Eu explico. Já ouviu falar de gestão de resultados? Nos dias atuais a orientação do Superior é para que sigamos o binômio objetivos e resultados. Observamos que, nos últimos anos, cada vez que você pregava as pessoas dormiam. E cada vez que ela conduzia o táxi pelas ruas da cidade as pessoas rezavam. Resultado é o que importa, minha querida irmã!” Portanto, nobre deputado Tenente-coronel, esqueça Lula e trabalhe. Mais importante do que seu título são suas propostas de alcance realmente propositivo e popular. Busque sua túnica dourada sem a carteirada. Amém.

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