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República do vandalismo

Congresso que se lixa para o Brasil valida a sacanagem

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo* - Foto de Arquivo/ABr

Vocacionado para o mal, pronto para qualquer modelo de sacanagem contra o povo e aberto aos mais variados perfis de indecência, o Congresso de nossos dias é uma arapuca para os homens públicos com alguma boa intenção. É o maior blefe que já tivemos em 202 anos de independência. Não me refiro à monarquia, porque, no período, a indignidade era digna de exportação. Hoje, o modismo é a lealdade entre os desleais. Com o país sem emprego, sem segurança e sem vergonha, deputados e senadores deram na terça-feira (28) mais uma demonstração da perversa e odiosa forma que escolheram para legislar: proclamaram a república do vandalismo.

Dane-se quem danar-se, a ordem é unilateral, embora possa ser decidida à direita ou à esquerda. Em resumo, o Parlamento brasileiro trabalha atualmente com duas únicas vertentes: derrotar Luiz Inácio e agradar Jair Bolsonaro. Azar para as consequências dessas escolhas. Ou seja, o Brasil, os brasileiros e os gaúchos que morram com os dentes arreganhados. A derradeira prova do pouco caso dos parlamentares foi a manutenção de um veto do ex-presidente Bolsonaro impedindo a punição de atos de “comunicação enganosa em massa”, as famosas fake news, cuja nocividade ficou comprovada na eleição que derrotou seu criador.

Com aval dos presidentes da Câmara e do Senado, a bancada que está se lixando para o Brasil conseguiu validar a sacanagem em todo tipo de situação. Mentir sobre verdades comprometedoras não é mais crime. Começando pelas eleições e chegando às tragédias, o vale tudo no país pelo menos deixou de ter mão única. A partir da liberação no Congresso, a desconstrução, o desrespeito, o ódio e, principalmente, os xingamentos, terão troco. Ou seja, as genitoras e demais familiares dos defensores do fim das fake news agora podem – e devem – ser incluídas na lista de pessoas citadas pelos “patriotas” como de pouca serventia.

Sintetizando, o liberou geral significa que o pau que estava acostumado a dar somente em Chico também vai cantar no lombo de Francisco. Estarão isentos de punição chamamentos do tipo ladrão, corrupto, genocida e falsificador de cartão de vacina, entre outros menos nobres. Não está claro, mas acho que suas excelências só reagirão a corno e a fio d’uma égua. O primeiro adjetivo depende de uma mulher e, por razões diversas, nem todos os deputados e senadores são casados. O temor em relação ao segundo é um eventual processo da Sociedade Protetora dos Animais ou uma reclamação formal da pobre fêmea do cavalo.

Na prática, a decisão, referendada por 317 votos contra 139, permite informar ou afirmar, por exemplo, sem medo de penas pecuniárias ou de restrição de liberdade, que a imbrochalidade não é fake, mas fato, e que a facada de 2018 não foi fato, mas fake. E por aí a fora. Os hackers estão livres para esfolar e matar. Por conta do novo e estarrecedor modus operandi de deputados e senadores também deixou de ser crime espalhar nas redes sociais que foi Lula da Silva quem determinou a abertura das comportas do Rio Guaíba e da Lagoa dos Patos, causando a trágica e macabra enchente de Porto Alegre, Pelotas e demais cidades do Rio Grande do Sul.

Como se ainda estivéssemos sob o manto da covardia, Lula igualmente foi acusado de determinar a abertura de valas gigantes para enterrar corpos de gaúchos em decomposição. É este o país em que vivemos. Sem atalhos para o crescimento ou para os gritos de liberdade de quem está de saco cheio da política, o Brasil de hoje está resumido a um Congresso de peçonhas da pior espécie e a uma população acovardada, medrosa, leniente e, na maioria dos casos, conivente com a sacanagem dos que só trabalham pelo quanto pior, melhor. Como o povo tem o prazer mórbido de sofrer, certamente a maioria do atual Congresso será reeleita em 2026. Falando sério, recomendo ao último a abandonar a pocilga que apague a luz.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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