Estamos em plena Semana Mundial de Aleitamento Materno, versão 2018. Com o tema: ‘aleitamento materno, a base da vida’, a campanha pretende incentivar as mães a darem o leite materno aos pequenos, até que eles completem 2 anos de vida, o que tem sido cada vez menos frequente nos dias de hoje.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, apenas 26% dos brasileirinhos são amamentados até essa idade. Nem mesmo a orientação principal das sociedades de pediatria, que os bebês recebam apenas o leite materno até completarem seis meses, não costuma ser cumprida. 60% deles não contam com esse cuidado. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, no País a amamentação exclusiva dura em média 51 dias, menos de 2 meses.
Eu sou mãe e sei que não é nada fácil iniciar a amamentação e muito menos seguir com ela por 1 ano e 10 meses, que foi o meu limite. Não estou aqui para julgar as escolhas de ninguém, conheço as dificuldades de continuar dando o peito depois de voltar ao trabalho, de perder noites e noites de sono e de sentir fraca, sem falar no preconceito de amamentar em público.
Além de tudo isso ainda é preciso tapar os ouvidos para todos que falam que já está na hora de parar, que o bebê já está comendo outros alimentos, portanto o seu leite não é mais necessário e que se ele quer mamar toda hora é porque o seu leite é fraco, mesmo que essas pessoas sejam sua mãe, seu marido ou suas amigas.
Antes de optar pela desistência, procure os grupos de apoio à amamentação, nas redes sociais você encontra dezenas deles, lá se sentirá à vontade para desabafar, se estiver precisando, e além de muitos ombros e ouvidos amigos, vai receber uma série de dicas, que podem te ajudar muito a seguir a diante.
Para fazer a minha parte, trouxe 8 motivos para que você permaneça firme com a amamentação até que o seu filho complete o segundo aniversário, ou o mais próximo dessa data que conseguir.
A amamentação é a base para a formação do sistema imunológico
O colostro, leite grosso que é o primeiro a ser sugado pelo bebê, possui 700 espécies de bactérias saudáveis, que irão fazer a colonização inicial do intestino e isso é fundamental para que tenhamos um sistema imunológico eficiente durante a vida toda. Estas bactérias são responsáveis pela formação de 70% das nossas células de defesa. É só a partir do sexto mês que o sistema imunológico dos pequenos ficará independente do materno, neste período de transição ele precisa dos fatores imunológicos que serão transmitidos pelo leite da mãe. É muito importante ressaltar que quando a criança não tem contato com o peito assim que nasce, com a amamentação de primeira hora, muito provavelmente, receberá um soro com glicose no hospital e por conta disso terá sua primeira colonização intestinal feita com bactérias hospitalares, o que irá enfraquecer seu sistema imunológico desde o seu primeiro dia de vida. A amamentação de primeira hora é tão importante quanto simples de ser realizada, basta colocar a boca do bebê em contato com o mamilo materno assim que ele nascer, não é preciso que ele sugue uma grande quantidade de leite. Essa prática é uma das ações que os hospitais devem cumprir para receber da Unicef o selo Hospital Amigo da Criança. Se você está grávida, vale a pena conferir quais hospitais têm esse selo, antes de decidir onde fará o parto.
O leite materno evita o contato com o leite de vaca e com as fórmulas não-hidrolisadas
Já é um consenso entre as Sociedades de Pediatra que se deve evitar a introdução de leite de vaca ou de leite de soja até que o pequeno complete seu primeiro ano de vida. Isso ocorre porque os dois alimentos têm alto potencial alergênico, são compostos por proteínas que ainda não são bem digeridas e causam processos inflamatórios no organismo. Mas o que vemos em muitos consultórios pediátricos, antes mesmo do bebê completar seis meses de vida, é a recomendação para que as mães substituam o próprio leite pelas fórmulas, que têm como base o leite de vaca. Ao primeiro sinal de dificuldade das mães em amamentar, dificuldades comuns que boa parte das mulheres enfrenta, a orientação costuma ser pela desistência. Quando é feita a substituição logo aparecem os primeiros sintomas, que podem se manifestar por meio de cólicas, refluxos, otite, bronquite, prisão de ventre e dermatite, entre muitos outros efeitos desagradáveis.
O leite materno colabora com a maturação de alguns órgãos
Alguns órgãos não nascem totalmente prontos e, até o sexto mês de vida, o estômago, o intestino, e os rins do bebê só estão preparados para lidar com as características do leite materno e qualquer outro alimento que for oferecido irá prejudicar suas funções. De fato quando a criança já passou dessa primeira fase e já consome todos os grupos alimentares, a amamentação já não é imprescindível para a sua nutrição. Porém, a sua função não acaba aí, quem irá colaborar com o amadurecimento deste órgãos são substâncias presentes exclusivamente no leite materno.
É fundamental para o desenvolvimento cerebral
O pico da nossa formação cerebral acontece entre o terceiro trimestre da gestação e o décimo oitavo mês de vida do bebê. O principal nutriente responsável por essa formação é o Ômega 3. Mas para que a mãe consiga suprir as necessidades nutricionais do feto e depois do bebê, é imprescindível que ela também esteja bem nutrida. Muitas vezes é preciso que haja um suporte de vitaminas e minerais, que deve ser prescrito por um nutricionista. Durante a gestação e principalmente durante a fase da amamentação, a mulher precisa de uma imensa quantidade de nutrientes, esta é a etapa na qual ela terá a maior demanda de micronutrientes, como vitaminas e minerais, de toda a sua vida. Além ter pouco tempo ou disposição para cozinhar e para se alimentar bem nos primeiros meses do bebê, a falta de sono, comum nesta época e a ansiedade gerada pela nova responsabilidade podem gerar uma situação de estresse, que elimina nutrientes do organismo. Ou seja, além de um baixo consumo, o pouco que é ingerido também pode ser descartado. Por isso, em grande parte dos casos, estas quantidades não são alcançadas apenas com a alimentação e precisam ser suplementadas por profissionais da área. Apesar do ômega 3 ser um nutriente fundamental, o seu consumo é muito baixo entre todos nós, isso ocorre porque os alimentos de onde ele viria são principalmente os peixes criados livremente, que se alimentam de plânctons, que não é o caso da maioria dos que são comercializados no País.
A amamentação pode prevenir o aparecimento de doenças crônicas
Estudos comprovam que carências nutricionais da gestante na segunda metade da gravidez podem predispor o bebê a doenças metabólicas como obesidade, diabetes tipo 2 e resistência a insulina. E o oposto também acontece, uma mãe que se nutriu bem durante a gravidez e que amamenta o seu filho exclusivamente até os seis meses e, de preferência, até os dois anos, estará atuando na prevenção destas doenças.
O leite materno colabora com o desenvolvimento neurocomportamental
Está comprovado que carências nutricionais da gestante na primeira metade da gravidez podem predispor o bebê a doenças neurocomportamentais como TDAH e autismo. Por outro lado, uma amamentação prolongada pode prevenir esses males.
Uma amamentação bem feita irá colaborar com a introdução de alimentos
O sabor de todos os alimentos que a mulher consome durante a gestação e a amamentação passa para os filhos por meio da placenta e depois do leite materno. Portanto, quanto mais ela consumir frutas, verduras e legumes variados, mais familiaridade a criança terá com estes alimentos na hora da introdução alimentar.
O leite materno diminui a mortalidade infantil
De acordo com a agência de notícias da ONU, se todos os bebês fossem amamentados nos seus dois primeiros anos, seria possível salvar a vida de mais de 820 mil crianças com menos de cinco anos no mundo, todos os anos.