A saída da casa dos pais assinala um período de inevitáveis transformações na vida de qualquer jovem. Ainda assim, passar a morar em um espaço o mais afinado possível com seu estilo e gostos pessoais pode acelerar a adaptação. Foi dentro desta perspectiva que a arquiteta Carina Korman, da Korman Arquitetos, aceitou o desafio de transformar este loft com área útil de 125 m², localizado no térreo de um prédio em Perdizes, para um rapaz solteiro.
Como ponto de partida, o estilo industrial já sugerido pela construção do imóvel, com seus tijolos à vista, elétrica aparente, estrutura metálica e ausência de forro agradou em cheio ao novo morador. “Ele se identificou de cara com este visual. Minha tarefa foi levar esta pegada também à decoração, apostando em tons sóbrios e peças de design autoral”, relata ela.
Além de afinada com o estilo proposto, a paleta de cores escolhida pela arquiteta, mais neutra e escura, veio ao encontro do desejo do próprio morador. “Ele gostou da ideia de usar o preto e o cinza como base, deixando a cor para alguns móveis-chave como a poltrona de Paulo Mendes da Rocha”, explica ela.
Mudanças estruturais mesmo, no espaço de 85 m², foram poucas. Entre elas, a do layout da cozinha que teve de ser modificado para direcionar o acesso à lavanderia, originalmente aberta para o espaço. “Optamos por bloquear a visão da área por meio de um móvel com nichos, que acomoda micro-ondas e geladeira, e de uma porta de correr de madeira, que também funciona como lousa. Assim, se fechada, a porta separa os ambientes e, quando aberta, esconde a geladeira.”
Outro espaço que passou por modificações foi o do banheiro, único no imóvel, localizado no andar superior. “Ele não dispunha de janela, só de sistema de exaustão. Era uma coisa meio claustrofóbica”, conta Carina. Assim, para permitir a entrada de luz natural, parte da parede foi demolida e substituída por uma lâmina de vidro com película jateada. Além disso, o revestimento original foi trocado por placas de porcelanato que imitam concreto, mais afinadas com as linhas do projeto.
Já outra necessidade do morador, contar com um número maior de armários, mesmo tendo em vista as dimensões do imóvel, foi equacionada por meio da marcenaria. No quarto, por exemplo, gaveteiros flutuantes ocupam o lugar do criado-mudo, enquanto um outro móvel, que também leva a assinatura do escritório e fica de frente para a cama, serve de apoio para a TV e como opção extra para armazenamento.
Para ampliar a área interna, até mesmo o vão abaixo da escada de acesso ao segundo andar foi aproveitado, abrigando hoje a adega, o bar e um louceiro, desenhado pelo próprio escritório. “Foi a saída que encontramos para suprir a falta de espaços de armazenagem na cozinha, onde fica a dispensa. A parte de louça do dia a dia fica nesse móvel, logo abaixo da escada”, diz. Para se transformar em espaço gourmet, equipado com churrasqueira e cooktop, a área dos fundos do imóvel, com 40 m², teve de ser totalmente remodelada. “O morador gosta de cozinhar e receber, mas a cozinha não tem coifa, então fica complicado. Assim, apesar das dificuldades, não tive outra opção a não ser levar esse desejo para fora da casa”, admite ela.
Além de executar os projetos de hidráulica e elétrica, Carina teve de rebaixar o terreno em 50 cm para possibilitar a construção de um pergolado com altura suficiente para permitir que uma pessoa pudesse ficar de pé abaixo dele. “ O condomínio não permite construções acima do nível do muro”, explica. Para compor o espaço externo, poucos e bons móveis, de fibra sintética combinada a alumínio, em condições de ficar expostos à chuva, além de piso de porcelanato reproduzindo a textura de madeira. Fácil de ser lavado, uma solução que veio ao encontro da outra exigência expressa do morador: fácil manutenção em todos os setores da casa. Dentro ou fora.