Um novo estudo aponta que as multivitaminas diárias podem estar associadas à melhora da função cerebral em adultos mais velhos. Especialistas no campo da doença de Alzheimer e demência também estão animados com a descoberta, mas alertam que análises maiores são necessárias antes que as multivitaminas possam ser clinicamente recomendadas.
O estudo, publicado na Alzheimer’s Association, pesquisou 2.262 pessoas, todas com 65 anos ou mais, e acompanhou esses indivíduos por três anos depois que eles se inscreveram entre agosto de 2016 e agosto de 2017 na pesquisa. O estudo descobriu que as vitaminas diárias podem retardar o declínio cognitivo em cerca de 60% (ou cerca de dois anos) e é mais eficaz em idosos com histórico de doenças cardiovasculares.
“Nós fornecemos a primeira evidência em um estudo controlado randomizado de longo prazo com mulheres e homens mais velhos de que o uso diário de um multivitamínico-mineral seguro, prontamente acessível e de baixo custo pode melhorar a cognição”, escreveram os pesquisadores. “Esta descoberta pode ter importantes implicações de saúde pública para a saúde do cérebro e resiliência contra o declínio cognitivo futuro”.
Os participantes do estudo, que é conhecido como Cosmos-Mind, foram divididos em quatro grupos: um grupo tomou diariamente multivitamínicos e extrato de cacau contendo flavonóides (fitonutrientes que têm efeitos anti-inflamatórios e protegem as células do dano oxidativo), outro grupo que tomou apenas o suplemento de cacau, um terceiro grupo que tomou apenas multivitamínicos e um quarto grupo que tomou placebo.
Os pesquisadores descobriram que o cacau não teve efeito nas funções cognitivas dos participantes, mas que os multivitamínicos mostraram melhorias na função cerebral daqueles que os tomaram ao longo de três anos e tiveram um impacto particularmente significativo na função cognitiva daqueles com doenças cardiovasculares, que é um fator de risco conhecido e pode retardar as funções cognitivas.
“É bem conhecido que aqueles com fatores de risco cardiovascular podem ter níveis mais baixos de vitaminas e minerais no sangue. Portanto, suplementar essas vitaminas e minerais pode melhorar a saúde cardiovascular e, em virtude disso, melhorar a saúde cognitiva – e sabemos que há uma forte conexão entre a saúde cardiovascular e a saúde do cérebro”, disse Keith Vossel, professor de neurologia e diretor do Centro Mary S. Easton para Pesquisa e Cuidados de Alzheimer da Universidade da Califórnia.
“Se pudermos realmente eliminar ou realmente prevenir doenças crônicas, poderemos prevenir demências”, acrescentou. “Aproximadamente até 40% da demência poderia ser prevenida com apenas melhores medidas preventivas ao longo da vida.”
Vossel lembra, porém, que os pesquisadores “já passaram por esse caminho antes” ao estudar a conexão entre vitaminas e cognição. Por exemplo, alguns profissionais de saúde começaram a recomendar a vitamina E para ajudar a aumentar a cognição depois que pesquisas mostraram resultados promissores de que ajudaria a combater a doença de Alzheimer e a demência, diz Vossel, mas desde então os resultados foram mistos.
Já Jeff Kaye, que dirige o centro de envelhecimento e Alzheimer da Oregon Health & Science University e não fez parte do estudo, é cético em relação às descobertas. “Você pode marcar um ponto melhor quando fizer o teste um ano depois, e é estatisticamente significativo”, disse Kaye. “Mas isso se traduz em algo significativo na vida de uma pessoa?”
Os pesquisadores estão planejando um segundo estudo no futuro e usarão participantes mais diversos, como um especialista em demência observou que o estudo Cosmos-Mind se concentrou principalmente em pessoas brancas com altos níveis de educação.
“Embora essas descobertas preliminares sejam promissoras, pesquisas adicionais são necessárias em um grupo maior e mais diversificado de pessoas. Além disso, ainda temos trabalho a fazer para entender melhor por que as multivitaminas podem beneficiar a cognição em adultos mais velhos”, disse por sua vez a professora Laura Baker, co-investigadora principal do estudo Cosmos na Wake Forest University.
Um estudo semelhante relatado pela CNN no início de agosto mostrou uma maneira pela qual os adultos podem retardar sua função cognitiva: alimentos ultraprocessados . O estudo descobriu que comer alimentos processados, como sopas pré-embaladas, pizzas congeladas e refeições prontas para mais de 20% da ingestão diária de calorias, pode retardar a função cognitiva.