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Conta do (des) governo anterior começa a chegar com atraso

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro fazem ato em frente ao Palácio da Alvorada

Um zero à esquerda e sem número algum à direita, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, ficou conhecido nacionalmente quando, no fim de 2022, resolveu aderir à campanha terrivelmente séria e correta do ex-presidente que insiste em se autodenomiar mito. Perderam juntos, de mãos amarradas e com os dez dedos das mãos tentando unir as pontas de um laço de amizade que nunca existiu. O imbrochável alfa, que não é zema nem no cheiro, fugiu, mas deixou rastros suficientes para lhe garantir alguns anos de reclusão nas igrejas dos bispos e pastores que aprenderam como ganhar dinheiro obrando. E obram de forma tão maravilhosa que seus seguidores sequer conseguem sentir o cheiro de suas mirabolantes obras.

Como todo santo um dia acaba mostrando seus milagres, Zema já disse ao que veio. Reeleito para governar as Minas e as Gerais, ele explodiu o coração e o bolso dos mineiros, acumulando uma ruma de contratos sem licitação. No primeiro mandato, foram desembolsados R$ 9,6 bilhões na modalidade ninguém sabe, ninguém viu. Comparado com a demonizada gestão do petista Fernando Pimentel, são 62% a mais. Ou seja, nem sempre tudo que reluz é ouro. Romeu Zema esqueceu que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida como vento, a memória traz de volta o que realmente importa.

E chegou para o Brasil e para Minas mais rápido do que imaginavam nordestinos e mineiro. A Terra gira e as voltas que o mundo dá nem sempre nos surpreendem. Oportunista e suposto aliado do Capetão, Zema deu com os burros n’água. Como todos os demais. Depois de perder o porte de arma e o rebolado, a última a se insurgir contra os (de) feitos do Jair foi a deputada Carla Zambelli. Parceira de primeira e última horas do clã que tiranicamente nos governou, ela critica o ex-amigo pela postura silenciosa e fujona, além de lamentar a longa estadia dele nos Estados Unidos. Concordo plenamente.

Só “disconcordo” quando a deputada, baseada nos 28 anos de mandato do Jair, diz que o homi tinha (não tem mais) a necessária experiência para organizar, orientar e conduzir a oposição ao governo de Luiz Inácio. Que experiência tem alguém que, ao longo de sete mandatos, tem menos projetos aprovados do que eu tenho de dedos em uma das mãos? Não sei se serei insolente, mas sua insolência entendia tanto de política nacional quanto eu de produzir bolinhos de chuva ou farofa de frango em série. Para não ser injusto, tudo que ele deixou de fazer – ou nada do que fez – tinha uma razão: ele nunca soube para o que foi eleito.

O fato é que, para exacerbação do ódio dos bolsonaristas raiz, a conta do desgoverno e dos desmandos de Jair começou a chegar. E com juros e correção monetária. Conforme termo cunhado pelo então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, hoje deputado federal, o dia D e a hora H estão bem mais próximos para Jair Messias, seguidores e apoiadores do que imagina qualquer mortal. Aliás, poucos mortais acreditavam que esse dia chegaria. Chegou e deve escurecer ainda mais quando forem quebrados todos os sigilos de 100 anos do senhor Jair.

Uma das primeiras promissórias venceu semana passada, ocasião em que a Justiça Federal em São Paulo negou recurso e ele terá de pagar multa de R$552,71 por não usar o equipamento de proteção durante motociata na capital paulista em junho de 2022. Outras virão até que a da inelegibilidade acabe de vez com seus bizarros delírios de grandeza. Aliás, esse tipo de alucinação normalmente vem do berço e comumente torna seus adeptos cacoetes de cidadãos. Quando não se transforma em esquisitice, a veneta acaba virando insanidade. É nesse estágio que vivem os dementes e fanáticos por tudo que é improvável, inclusive a aterrissagem de discos voadores na Esplanada dos Ministérios ou em frente aos batalhões do Exército.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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